Numa cerimónia de tributo ao antigo chefe de Estado, realizada um ano após a sua morte, na capela do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que, "um ano volvido, Mário Soares continua vivo".
"Fechou-se com ele um ciclo decisivo da nossa democracia, da passagem da ditadura e, depois, da gesta dos militares de Abril para a plena soberania popular. Mas ele, o homem, ele, o testemunho, continuam vivos", acrescentou.
O Presidente da República descreveu o testemunho de Mário Soares como "a liberdade sem peias, a justiça sem delongas, a democracia sem tergiversações, a solidariedade sem guetos, a proximidade sem complexos, travão de messianismos, sebastianismos e providencialismos, a Europa sem medo dos europeus, o mundo sem guerras e opressões".
Na presença do primeiro-ministro, do presidente da Assembleia da República e dos filhos e netos de Mário Soares, Marcelo Rebelo de Sousa questionou: "É um sonho utópico, é um desafio impossível, é um programa inviável?".
"Pode ser que sim, para muitos. Mas não era para Mário Soares. Não deve ser para nós, hoje. Ele nos conjura a não trocarmos o sonho pelo acomodamento, o combate pela resignação, a convicção pela concessão", defendeu.
O Presidente da República prosseguiu: "Mais liberdade, mais igualdade, mais democracia, mais Europa dos europeus, mais paz, mais justiça, mais fraternidade universal. Um ano depois, Mário Soares continua connosco nesta saga, como sempre esteve, de cabeça erguida, sorriso confiante, peito feito ao vento, olhos no futuro".
"Mário Soares está vivo, e nós estamos mais vivos com ele", concluiu.
Marcelo Rebelo de Sousa recordou as cerimónias fúnebres de há um ano como um momento em que os portugueses, "tantos, de tantas famílias políticas e sociais, evocaram o homem e a sua causa cimeira: a liberdade".
Nessa ocasião, segundo o Presidente da República, os portugueses "recordaram uma vida irrepetível, feita da coragem intelectual e cívica luta contra a ditadura, na vivência da revolução, na construção da democracia, todos os dias de todos os anos da sua vida", e quiseram dizer a Mário Soares "uma palavra muito simples, mas muito poderosa, porque muito sentida: obrigado".
Mário Soares morreu a 7 de Janeiro de 2017, aos 92 anos, em Lisboa.
Nascido em 7 de Dezembro de 1924, em Lisboa, Mário Alberto Nobre Lopes Soares, advogado, combateu a ditadura do Estado Novo e foi fundador e primeiro líder do PS.
Após a revolução do 25 de Abril de 1974, regressou do exílio em França e foi ministro dos Negócios Estrangeiros e primeiro-ministro entre 1976 e 1978 e entre 1983 e 1985, tendo pedido a adesão de Portugal à então Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1977, e assinado o respectivo tratado, em 1985.
Em 1986, ganhou as eleições presidenciais e foi Presidente da República durante dois mandatos, até 1996.