Sábado – Pense por si

Eanes em Belém. Chegar, limpar e inventar tudo

Maria Henrique Espada
Maria Henrique Espada 07 de julho de 2016 às 15:04

O telefone no gabinete era duvidoso, os panos da parede estavam a cair. E foi preciso criar do nada, porque ele era o primeiro: o que era isso de ser Presidente em democracia?

A 27 de Junho de 1976, António Ramalho Eanes foi eleito Presidente da República (PR) com 61,54% dos votos: era o primeiro a ser escolhido democraticamente pelos eleitores. A 14 de Julho tomou posse. Entre estas duas datas, quatro pessoas foram ao Palácio de Belém em visita de reconhecimento. "Fomos lá vasculhar aquilo tudo, eu, o Joaquim Aguiar (assessor político), o Fonseca de Almeida (assessor jurídico) e o Garcia dos Santos (chefe da casa Militar) – que deu imenso jeito porque ele percebia de metros quadrados e móveis, – quatro marretas a ver como instalávamos tudo, mas aquilo estava mal, bastante mal", suspira Henrique Granadeiro, que seria o chefe da Casa Civil do Presidente. Garcia dos Santos é menos polido: "Era uma espel... enfim. Aliás o general Eanes não foi logo, foi preciso mandar limpar tudo de uma ponta à outra, estava tudo sujo, porcaria de cima abaixo. Tudo estragado, o pior que se possa imaginar." E, além disso, "não havia nada". Nada como? "Nada. Estava completamente vazio de tudo o que tinha sido o espólio de anteriores Presidentes, não havia uma única peça que tivessem deixado. Zero. Não sei quem foi que levou, mas não havia nada."

Para continuar a ler
Já tem conta? Faça login

Assinatura Digital SÁBADO GRÁTIS
durante 2 anos, para jovens dos 15 aos 18 anos.

Saber Mais
No país emerso

Por que sou mandatária de Jorge Pinto

Já muito se refletiu sobre a falta de incentivos para “os bons” irem para a política: as horas são longas, a responsabilidade é imensa, o escrutínio é severo e a remuneração está longe de compensar as dores de cabeça. O cenário é bem mais apelativo para os populistas e para os oportunistas, como está à vista de toda a gente.