Sábado – Pense por si

Como se vivia nas aldeias devastadas de Pedrógão Grande

Raquel Lito
Raquel Lito 26 de agosto de 2017 às 08:00

Adelaide vendia fruta aos 6 anos, Rosinda improvisava sandálias com folhas de eucalipto e João Viola plantava uma acácia que fazia parte de um jardim botânico

Sem esforço de memória, Adelaide Silva recua aos sábados de 1945. Às 5h da manhã, ainda de noite, saía de casa com a mãe numa carroça puxada a burro. Era uma criança alegre, de 6 anos, a viver num pequeno paraíso verde, perdido no mapa até aos incêndios de Pedrógão Grande: Nodeirinho, a aldeia que ficou sem um terço da população (11 pessoas) no sábado mais trágico da sua história, 17 de Junho passado. À época, percorriam 15 quilómetros por trilhos, porque não havia estradas alcatroadas, em direcção a Castanheira de Pêra. Nesta freguesia, vendiam as sobras do cultivo - pêssegos, feijão e peras - e à tarde, terminada a feira, contavam os tostões. "Com aquele dinheirinho é que se compravam as sardinhas, o arroz e o bacalhau. Tínhamos seis ovelhas e duas cabras que davam queijo e leite", recorda àSÁBADOa reformada, 78 anos, de luto e com os olhos inchados devido às chamas dos dias anteriores.

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