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À volta de Sócrates: ensaio sobre a cegueira voluntária

Maria Henrique Espada
Maria Henrique Espada 13 de outubro de 2017 às 17:18

“Eu não vi, eu não ouvi, eu não sabia”: como é possível que tanta gente inteligente próxima do ex-primeiro ministro não tenha, nunca, percebido nada? A psicologia até explica. Mas só até certo ponto

O Supremo Tribunal dos Estados Unidos criou em 2012 uma doutrina a que chamou de "wilfull blindness", ou cegueira voluntária, deliberada. Também lhe chamam "instruções para a avestruz". É simples: o agente finge não reparar na ilicitude da origem dos bens, direitos ou valores com o intuito de obter vantagens. O caso típico é a 'mula' de droga que diz que não sabia o que transportava, não lhe disseram e não perguntou. E é verdade: não sabe mesmo. Mas apenas porque não quis saber, fez activamente por isso. O conceito também é usado em casos de lavagem de dinheiro quando o argumento de quem serve de intermediário é dizer "eu não sabia que a origem do dinheiro era ilícita" e seja provável, de forma aparente, a ilegalidade do mesmo. Mas esta é apenas uma doutrina jurídica. Ou pode ser também uma metáfora – e só uma metáfora – política, no que aos políticos que estiveram com Sócrates diz respeito. A procura da ignorância acontece em caso de crime, na política, nas empresas ou na vida pessoal. 

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