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Tancos: PJM tentou envolver o Ministério da Defesa

31 de maio de 2019 às 15:36

Relatório preliminar da comissão de inquérito ao furto de Tancos indica que "em nenhum momento se verificou qualquer interferência política na ação do Exército ou na atividade da Polícia Judiciária Militar".

O relatório preliminar da comissão de inquérito ao furto deTancos, entregue esta sexta-feira no parlamento, apurou que aPolícia Judiciária Militar (PJM) tentou contactar oMinistério da Defesa"para elaborar um comunicado de imprensa" para este anunciar que as armas furtadas dos paióis haviam sido encontradas. O documento, apresentado pelo deputado relator do Partido Socialista, Ricardo Bexiga, tem 170 páginas e termina com as conclusões e 35 recomendações.

No mesmo, o relatório preliminar considera que "o Ministério da Defesa Nacional fez, no tempo devido, um reporte completo da evolução da situação", que verteu no documento "Tancos: Factos e Documentos".

A comissão parlamentar de inquérito "apurou que em nenhum momento se verificou qualquer interferência política na ação do Exército ou na atividade da PJM" e que o primeiro-ministro "não teve conhecimento prévio de qualquer outra informação sobre o achamento do material furtado para além da que era do conhecimento dos diversos órgãos de soberania", refere o relatório.

Na sua intervenção, Ricardo Bexiga falou de um "incumprimento de regras fundamentais de segurança" aos paióis de Tancos e questionou o papel dos militares envolvidos na vigilância, referindo "um cenário em que tudo conduzia a que acontecesse o que acabou por acontecer". O deputado relator indicou que "o risco não foi devidamente avaliado pelas estruturas militares" e não tem duvídas de que existiu uma colaboração no furto.

"Constatámos que houve uma tentativa de fechamento da estrutura militar sobre a averiguação das responsabilidades dentro da estrutura do Exército", referiu o deputado do PS, indicando que, num momento inicial, a PJM atuou "dentro do quadro de legalidade" mas que tal não se verificou durante o resto do processo. Apesar da então PGR, Joana Marques Vidal, ter entregado a investigação à Polícia Judiciária, a unidade militar continuou a averiguar o caso, atuando "ilegal e paralelamente" e passando a "ser parte do problema".

"Do ponto de vista de responsabilidades governativas, quer o ministro da Defesa Nacional, quer o primeiro-ministro cumpriram as obrigações que lhes estão legal e constitucionalmente veiculadas e que, nesta matéria, não será ao Governo que devem ser atribuídas responsabilidades seja dos fatos relacionados com o furto propriamente dito do material de Tancos, quer relativamente ao seu achamento", sustentou o deputado relator.

Ainda no capítulo sobre "responsabilidades governativas", o relatório conclui que "a PJM, em regime de informalidade, tentou implicar o chefe de gabinete" do ex-ministro da Defesa Nacional, general Martins Pereira, e o chefe da Casa Militar do Presidente da República "num conhecimento nebuloso sobre a forma de investigação no sentido da recuperação do material de guerra".

Numa referência ao chamado "memorando" que o ex-diretor da PJM coronel Vieira e o ex-inspetor major Vasco Brazão entregaram ao então chefe de gabinete de Azeredo Lopes referindo a existência de um informador, o relator sublinha que esses documentos "não eram oficiais, mas continham informação pertinente".

Segundo o deputado socialista, a comissão de inquérito apurou que "não era obetivamente percetível qualquer encenação ilícita ou criminosa, nem se tratava de obter um encobrimento do procedimento [para a recuperação do material de guerra à margem da Polícia Judiciária] por parte do MDN [ministro da Defesa Nacional]".

Apurou ainda que "da comunicação do chefe de gabinete ao ministro da Defesa não resultou qualquer advertência sobre a hipótese de ilegalidade ou irregularidade e muito menos comportamento criminoso".

Quanto ao conhecimento do primeiro-ministro sobre o "memorando", o relatório conclui que António Costa "só teve conhecimento em 12 de outubro de 2018, através do seu chefe de gabinete, do `documento apócrifo' que havia sido entregue ao chefe de gabinete" de Azeredo Lopes.

O relatório preliminar é discutido esta sexta-feira de forma genérica, segundo o presidente da comissão de inquérito, Filipe Neto Brandão, adiantando que os deputados poderão apresentar propostas de alteração até às 10h00 do próximo dia 11 de junho.

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