Rosa Grilo não denunciou morte do marido por “medo”
Primeira sessão de julgamento a Rosa Grilo durou mais tempo do que o previsto e, por isso, António Joaquim não foi ouvido. Próxima sessão está marcada para a próxima terça-feira.
O Tribunal de Loures começou esta terça-feira a julgar Rosa Grilo e António Joaquim, acusados pelo Ministério Público (MP) da coautoria do homicídio do triatleta Luís Grilo, marido da arguida.
O julgamento começou com uma hora de atraso, cerca das 10h30, e terminou às 17h50. Estava previsto que os dois arguidos fossem ouvidos neste primeiro dia, mas o interrogatório a Rosa Grilo durou mais tempo do que o previsto e, por isso, António Joaquim não foi ouvido.
A arguida Rosa Grilo reiterou hoje em julgamento que o marido foi morto na casa do casal por "três indivíduos" devido a negócios com diamantes, acrescentando que Luís Grilo foi morto à sua frente com dois tiros na cabeça.
No entanto, a tese da mulher do triatleta apresentou algumas contradições, uma vez que o relatório da autópsia apenas refere "a entrada de um projétil". A juíza pediu à viúva que respeitasse o tribunal e mostrou-se irritada com as incongruências temporais apresentadas pela arguida.
A arguida referiu que, pelas 08h00 da manhã de 16 de julho do ano passado, três homens entraram na casa do casal, no concelho de Vila Franca de Xira (distrito de Lisboa), começando de imediato a agredi-la com "chapadas na cabeça" e tapando-lhe a boca.
Luís Grilo desceu do quarto e, nesse momento, segundo a arguida, "começaram a gritar" com o seu marido, que "ficou espantado e nada disse", apesar de a ver naquela situação. De seguida, os homens "começaram a perguntar pelas coisas deles, pelas encomendas deles".
"Eles não diziam o que eram, mas eu sabia que eram diamantes, pois eu e o Luís tínhamos falado semanas antes sobre isso", disse, acrescentando que em abril ou março desse ano se apercebeu do "comportamento estranho, muitas vezes assustado e irritado" do marido.
Rosa Grilo referiu que cerca de dois anos antes o marido começou a receber "encomendas no escritório, caixas pequenas, pacotes, de cor castanha", os quais eram sempre levantados pela vítima, facto que chamou a sua atenção, pois não era "habitual" ser ele a receber as encomendas.
Morte de Luís Grilo não foi denunciada às autoridades porque Rosa tinha "medo"
Da parte da tarde, contou ao tribunal de júri que, pelas 20h00 desse dia, já depois do seu marido estar morto e de ter sido enrolado em sacos do lixo e de ter sido levado por dois dos alegados autores do crime para Benavila, no concelho de Avis, distrito de Portalegre, onde o corpo foi encontrado, se dirigiu ao posto da GNR para dar conta do desaparecimento de Luís Grilo.
A arguida disse que regressou a casa cerca de quatro horas depois, período durante o qual deixou o seu filho, menor, sozinho em casa com o "assassino" do seu marido, justificando que "fez o que lhe mandaram". Disse que também limpou os vestígios de sangue em casa e que se desfez de roupa, nomeadamente de lençóis, que também tinham sangue.
Para sustentar a tese do desaparecimento, Rosa Grilo assumiu que também se desfez da bicicleta com a qual o marido e triatleta fazia os treinos, levando-a para debaixo da ponte de Vila Franca de Xira, assumindo que nunca entrou em pânico e que sempre tentou agir naturalmente.
Dois dias após o homicídio, e depois de os supostos autores do crime terem abandonado a arma de António Joaquim no escritório, Rosa Grilo foi devolvê-la ao arguido, com quem assumiu manter em tribunal uma relação extraconjugal.
A arguida explicou que levou a arma para a sua habitação "às escondidas" da casa do arguido, para se sentir "mais segura", na sequência de uma conversa que teve com o marido, durante a qual Luís Grilo lhe terá dito que tinha feito "um disparate" relacionado com a entrega de diamantes e na qual teria um papel de intermediário.
"Quando restituí a arma ao António [Joaquim] não lhe contei o que se passou. Não queria envolver mais ninguém, colocar mais ninguém em perigo", justificou Rosa Grilo, admitindo hoje que devia ter contado ao arguido o que se tinha passado assim como denunciar o crime às autoridades.
Três dias após o homicídio de Luís Grilo, o arguido António Joaquim dormiu na casa de Rosa Grilo pois a arguida "estava com medo".
"Mas aí estava a colocar o António em risco?", questionou a presidente do coletivo de juízes. "Não pensei nisso", respondeu a arguida.
A presidente do coletivo de juízes manifestou alguma incredulidade perante a versão completa apresentada pela arguida, questionando-a sobre os motivos que a levaram a ter esta atitude e a "atrasar a atuação da polícia", ainda por cima quando se sentia "insegura", tendo a arguida respondido sempre que foi por "medo", alegando que continuava a ser perseguida e controlada pelos homens.
O tribunal perguntou ainda à arguida se não se lembrou que a arma do arguido, que se encontrava na garagem e que foi descoberta pelos supostos criminosos, quando aí foram procurar os diamantes, poderia conter impressões digitais da pessoa que matou o seu marido.
Uma prova, segundo a presidente do coletivo de juízes, que "poderia dar a possibilidade de identificar quem matou o marido". Rosa Grilo respondeu que "não se lembrou".
Para a arguida, a arma do crime foi uma das que estava na posse dos três alegados autores do homicídio, e não a de António Joaquim, contrariando a acusação do Ministério Público, que atribui a António Joaquim a autoria do disparo sobre a vítima na presença da arguida.
Sobre o edredão encontrado junto ao cadáver, Rosa Grilo acredita que os alegados autores do homicídio se deslocaram uma segunda vez à casa da avó, em Benavila, nessa ocasião já com o corpo do marido, e aí recolheram o edredão, pois tinham ficado com a chave nessa manhã do dia do crime, depois de terem ido com arguida ver se encontravam nessa habitação os diamantes, o que não aconteceu.
No seu interrogatório, Rosa Grilo falou sobre a relação com o filho. Garante que o filho menor ficou com um dos homicidas quando a mãe foi à polícia. Diz que foi ameaçada por angolanos e obrigada a denunciar o desaparecimento de Luís Grilo.
António Joaquim não foi ouvido em tribunal esta terça-feira, mas, no intervalo para almoço, o advogado, Ricardo Serrano Vieira, frisou que o arguido "está ansioso por começar a falar" e que irá manter o que disse na fase de inquérito e acrescentar algumas informações.
No final da sessão, Serrano Vieira disse que o cliente está "confiante que seja feita justiça".
O MP pediu na acusação que os arguidos sejam julgados por um tribunal de júri (além de três juízes, foram escolhidos/nomeados quatro cidadãos), que irá decidir se os arguidos são culpados e quais as penas a aplicar. Este atribui a António Joaquim a autoria do disparo sobre Luís Grilo, na presença de Rosa Grilo, no momento em que o triatleta dormia no quarto de hóspedes na casa do casal e pede ainda 25 anos de prisão para a viúva.
O crime terá sido cometido para poderem assumir a relação amorosa e beneficiarem dos bens da vítima - 500.000 euros em indemnizações de vários seguros e outros montantes depositados em contas bancárias tituladas por Luís Grilo, além da habitação.
A próxima sessão de julgamento está agendada para a próxima terça-feira, dia 17 de setembro.
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