Produtores Florestais lamentam que burocracia seja responsável pelo fogo
"Não há reforma ou programa estrutural para Monchique, há algumas medidas avulso que foram implementadas", explicou o presidente da Associação de Produtores Florestais do Barlavento Algarvio.
O presidente da Associação de Produtores Florestais do Barlavento Algarvio, Emílio Vidigal, lamentou quarta-feira que a burocracia tenha sido responsável por não se ter feito mais para evitar o incêndio que lavra em Monchique desde sexta-feira.
No programa Edição da Noite da SIC Noticias, o presidente da Aspaflobal, começou por dizer que não quer "alimentar a polémica" com o secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Miguel Freitas, salientando que houve "alguma interpretação de terminologia" quando se fala em planos ou projectos florestais.
"Não há reforma ou programa estrutural para Monchique, há algumas medidas avulso que foram implementadas", explicou aquele responsável.
Segundo Emílio Vidigal, "o que está atrasado é uma candidatura à medida 81.1, de intervenção, com fundos comunitários, para a defesa da floresta contra incêndios", revelando que a mesma foi "apresentada, apoiada e defendida" por vários responsáveis, entre os quais o secretário de Estado e o próprio primeiro-ministro aquando de uma visita a Monchique, em maio deste ano.
"Um dos programas que o Governo tinha era apoiar rapidamente essas medidas. Miguel Freitas veio anunciar que tem 289 candidaturas e não aprovou nenhuma. A burocracia comeu-as todas e nenhuma foi aprovada", acusou.
Em entrevista ao jornalPúblicona terça-feira passada, Emílio Vidigal, já havia denunciado que a Aspaflobal estava à espera que o Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) aprovasse o plano de prevenção e combate a incêndios que abrange a zona onde começaram as chamas em Monchique.
O responsável considerou que o organismo a que preside fez tudo o que havia a fazer, concertando com a Câmara Municipal de Monchique e até com a secretaria de Estado, apresentando a medida "em tempo útil e nada aconteceu".
"Não quero ter a leviandade de dizer que se este projeto tivesse sido aprovado em tempo útil não haveria incêndio. Obviamente que haveria incêndio, se não neste sítio, seria noutro. O que me revolta, e o meu constrangimento, tem a ver com o facto desta medida ser apontada exactamente para a zona que estava identificada há muito tempo", sublinhou.
De acordo com Emílio Vidigal, toda a comunidade científica já tinha identificado aquela zona especifica de Monchique como "uma zona muito crítica" e mesmo como "um barril de pólvora", além de o próprio Governo e autarcas, bem como a associação a que preside, saberem que era um local crítico.
"O que me revolta nas minhas declarações foi, debaixo do calor e da emoção, ver que o fogo eclodiu exactamente no sítio onde podíamos atuar. É revoltante", frisou.
Emílio Vidigal referiu ainda que, em maio de 2018, a medida já devia ter estado no terreno, lembrando que foi a "força e apoio" do secretário de Estado das Florestas, que esteve por duas ocasiões em Monchique, que levou a que o projeto de limpeza fosse apresentado, estando "todos a remar para o mesmo lado".
Emílio Vidigal lamentou ainda que o primeiro-ministro, António Costa, tenha afirmado hoje que o incêndio "foi a excepção que confirmou a regra do sucesso da operação ao longo destes dias".
"Estava identificada a gravidade da situação por várias entidades, desde o Governo, passando pelos autarcas e comunidade científica: não é uma excepção à regra", frisou, acrescentando que as críticas que faz são transversais aos vários governos que têm estado no poder há várias décadas.
O ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, disse na terça-feira que não existe nenhum plano de prevenção e combate de incêndios "pendente para aprovação" por parte do Instituto de Conservação da Natureza e Floresta referente à zona de Monchique.
"A indicação que tenho do [ministério da] Agricultura é que não existe nenhum plano pendente para aprovação", afirmou Eduardo Cabrita.
Por seu turno, o secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, Miguel Freitas, esclareceu, na terça-feira, que o plano de prevenção e combate a incêndios dos produtores florestais do Barlavento Algarvio para a zona de Monchique propõe o início da abertura de aceiros em Fevereiro de 2019.
De acordo com Miguel Freitas, a proposta dos produtores "não é para ser executada este ano" e "a própria associação, na candidatura, tem como data do início para execução das faixas de interrupção de combustível e da manutenção dos pontos de água dia 01 de Fevereiro de 2019".
O incêndio que deflagrou na sexta-feira em Monchique lavra há seis dias e já alastrou aos concelhos vizinhos de Portimão e Silves.
Segundo um balanço feito hoje de manhã e que não foi alterado, há 32 feridos, um dos quais em estado grave (uma idosa internada em Lisboa), e 181 pessoas mantêm-se deslocadas, depois da evacuação de várias localidades.
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