Secções
Entrar

Operação Éter: Instrução já na próxima semana e em sala ampla para travar “perigo de contágio”

20 de março de 2020 às 23:18

Juíza declara o “caráter urgente” da instrução do processo e diz que a fase instrutória “deverá correr termos sem limitações”.

Uma juíza do Porto declarou urgente a instrução do principal processo Éter, antecipando o seu início de 22 de abril para a próxima quarta-feira na maior sala de audiências da comarca, como forma de evitar o "perigo de contágio".

Num despacho divulgado esta sexta-feira à agência Lusa por fonte judicial, a magistrada titular do 3.º Juízo do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Porto declara o "caráter urgente" da instrução do processo, de alegada viciação de procedimentos de contratação pública em torno da Entidade de Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP).

O despacho acrescenta que a fase instrutória "deverá correr termos sem limitações".

A juíza de instrução Lígia Trovão refere que os interrogatórios vão realizar-se na maior sala do Tribunal de Matosinhos, que é também a maior da Comarca do Porto, face "à situação atual de perigo de contágio de doença infecciosa potencialmente letal e das medidas de prevenção recomendadas pela Direção-Geral da Saúde e do número de intervenientes processuais".

A opção surge em consonância com a determinação da presidência da Comarca do Porto de realizar na sala de Matosinhos atos processuais tidos por urgentes.

A juíza fixou, em concreto, as datas de 25 de março (a próxima quarta-feira), 30 de março e 01 de abril para as diligências iniciais no âmbito da instrução do processo Éter, depois de, em despacho anterior, ter fixado os primeiros interrogatórios apenas para os dias 22 e 27 de abril.

O processo Éter esteve na origem de uma megaoperação realizada pela Polícia Judiciária em outubro de 2018, que levou o Ministério Público a imputar centena e meia de crimes a 29 arguidos (21 singulares e oito coletivos), incluindo o ex-presidente do TPNP Melchior Moreira, com 35 crimes.

A instrução é uma fase processual facultativa, que pode ser requerida por qualquer um dos arguidos ou assistentes, e visa decidir se o caso segue ou não para julgamento, numa espécie de pré-julgamento do caso.

A fase instrutória que o tribunal decidiu agora antecipar foi requerida por 19 arguidos. No processo autonomizado, o único acusado é o ex-presidente do TPNP, Melchior Moreira, que está em prisão preventiva

O despacho do TIC para antecipação da fase instrutória suscitou já uma reação, em forma de requerimento à juíza que o determinou, por parte de Amílcar Fernandes, advogado do ex-presidente do TPNP.

O advogado de Melchior Moreira, que se mantém inconformado com a autonomização da acusação ao seu cliente e com o chumbo de sucessivos pedidos para o libertar, afirma, no documento, ser "muito estranho que, agora, nesta época de pandemia, se confira caráter urgente aos autos e se antecipem diligências em mais de um mês relativamente à data anteriormente marcada".

Amílcar Fernandes sublinha ainda que crimes imputados aos arguidos que pediram instrução do processo "estão bem longe da prescrição" e "não há arguidos presos", ao contrário do que acontece com Melchior Moreira.

O causídico acrescenta, dirigindo-se à magistrada, que a considera "claramente condicionada" pela decisão, "precipitada e infundada", de separação de processos "no momento em que nunca o poderia ter feito, lesando gravemente direitos do arguido".

A separação do processo contra Melchior Moreira, que está acusado por 35 crimes, teve como objetivo, conforme referiu o próprio despacho judicial que o ordenou, travar a libertação de Melchior Moreira em 25 de fevereiro, por excesso de prisão preventiva, prolongando a reclusão até dois anos e meio.

Nesse despacho, o TIC invocou a alínea b) do artigo 30.º do Código do Processo Penal, que permite a separação de processos "sempre que a conexão puder representar um grave risco para a pretensão punitiva do Estado".

No âmbito do complexo processo Éter tinham já sido dois outros processos separados: um visando autarcas e ex-autarcas de 47 municípios, sobre lojas interativas de turismo; outro sobre a alegada utilização de verbas destinadas a publicitar o rali de Portugal em publicidade de cariz diferente e eventuais crimes de prevaricação.

Nestes dois casos, não há ainda acusações deduzidas.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela