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Oficial do Exército condenado faz crowdfunding para pagar defesa no caso de Tancos

Luana Augusto 08 de dezembro de 2024 às 10:00

Major pede 50 mil euros para pagar parte da sua defesa e do seu sargento, mas à SÁBADO admite que seria necessário "substancialmente muito mais" dinheiro. Até ao momento ainda só reuniu 7% do valor requerido, mas admite ter esperança. "Temos que ter fé, porque a Justiça é feita pelos homens ."

Vasco Brazão, oficial do Exército e antigo investigador-chefe da Polícia Judiciária Militar (PJM), está a recorrer a uma campanhacrowdfundingpara pagar parte da sua defesa e do seu sargento no processo de Tancos - que envolve o furto de armas de uma instalação militar -, pelo qual foi condenado a cinco anos de prisão com pena suspensa pelos crimes de falsificação e favorecimento.

Pedro Catarino/medialivre

O antigo investigador-chefe da PMJ está a pedir, através do site Go Fund Me, 50 mil euros, em recolha de fundos para conseguir pagar a defesa no recurso, mas até ao momento arrecadou pouco mais de 3.500 euros - o correspondente a 7% do valor requerido.

"A justiça e a verdade não deveriam ter preço, mas infelizmente têm", começou por escrever na sua página de angariação de fundos.

Confrontado pela SÁBADO sobre o montante que está a pedir, Vasco Brazão avançou que o "doutor Ricardo Sá Fernandes [o seu advogado] adaptou os seus honorários à minha capacidade financeira" e garantiu que se tivesse contratado um outro advogado o valor seria igual ou até mesmo mais elevado.

"Este dinheiro é para pagar a minha defesa e a do meu sargento, mas não sei qual será o valor final porque ainda não terminou. Aquilo que posso dizer é que será substancialmente muito mais. Se fosse outro advogado seria igual ou pior", frisou. Além disso, "estou muito satisfeito com o doutor Ricardo, quer em termos técnico-jurídicos, quer humanos", defendeu.

Vasco Brazão admite que tem tido o apoio de familiares, amigos e até mesmo de desconhecidos, mas que este já não é suficiente. "Entendi que se calhar os portugueses iam entender as dificuldades que estamos a passar e que podiam dar um pequeno contributo, nem que fosse 1 euro. Na verdade, basta divulgarem este crowdfunding e mandarem uma mensagem de apoio que já estão a ajudar", alertou ao acrescentar que agradece "sempre a todos por e-mail e àqueles que conheço telefono".

O major é um dos 11 condenados neste caso, que envolve 23 arguidos e o roubo de armas de guerra do paiol de Tancos. À SÁBADO garante que não fez "nenhum acordo com o bandido".

"Recuperámos material muito perigoso. Aliás, foi um alívio recuperar aquilo. Não fizemos nenhum acordo com o bandido, nem isso ficou provado. E mais, o principal suspeito só entregou as munições durante o julgamento e isso deixa-me com uma questão: "Qual foi o acordo que ele fez com o tribunal?", questionou Vasco Brazão.

O oficial do Exército, que esteve em prisão domiciliária, aguarda agora pelo recurso, mas diz-se confiante. "Estou convicto que vamos ser absolvidos pela Relação, porque isto não faz qualquer sentido. O Paulino, o principal suspeito do assalto, não é credível para o tribunal em praticamente nada. Foi condenado por terrorismo, porque o tribunal não acreditava nas palavras dele. Foi condenado por tráfico de droga, pelo dinheiro que tinha, mas acreditam que fez um acordo connosco. Isto é de bradar aos céus", lembrou. Ainda assim, "tenho que acreditar na Justiça. Temos que ter fé, porque a Justiça é feita pelos homens."

O furto de armas numa instalação militar em Tancos deu-se a 27 de junho de 2017. A investigação foi iniciada pela Polícia Judiciária Militar, mas depois acabou entregue à Polícia Judiciária (PJ). O material de guerra só foi recuperado a 18 de outubro de 2017, mas um documento com apenas 14 parágrafos, obtido na altura pela SÁBADO, revelou que a entrega de armas não terá passado de uma encenação. Sobre as acusações de que é alvo, Vasco Brazão defende que não têm qualquer fundamento.

"Nós limitámo-nos a cumprir ordens. Deram-me uma missão e eu dei a missão ao sargento. Depois disto, o dever de tutela não existiu por parte de quem deu as ordens. Permaneceram no desconhecimento", defendeu. "Esta foi uma investigação que durou meses, desde a ida ao Algarve e a Tomar. Mas a verdade é que não se deslocam viaturas das próprias unidades sem as autorizações devidas."

E garante que as autoridades competentes poderão ter acesso a estas autorizações através dos metadados. "Os metadados indicam quantos contactos fiz com os meus chefes e têm lá as guias de marchas. Podem analisar estes metadados, aliás até me ajudavam."

A investigação resultou na ida do ex-ministro da Defesa Nacional, o director-geral da PJM, dois coronéis da GNR, um tenente-coronel da GNR, dois Majores da PJM, um sargento-chefe da PJM, um sargento-ajudante da GNR, um primeiro-sargento da PJM, dois guardas da GNR e um funcionário civil da PJM a julgamento. O director-geral da PJM foi colocado em prisão preventiva, enquanto Vasco Brazão ficou em prisão domiciliária.

"Não se compreende termos sido indiciados e pronunciados por tráfico de armas e associação criminosa, um absurdo", afirma Vasco Brazão na sua angariação de fundos.

Esta situação veio também a culminar no afastamento da PJM de "qualquer participação nas futuras diligências e foi de imediato aberto um processo de investigação contra a PJM, baseado numa muito conveniente falsa denúncia anónima", lembra o major. "O julgamento arrasou de forma brutal a acusação que mais parecia uma vingança sobre a atuação da PJM, sendo que a maioria dos arguidos já foram absolvidos", escreveu Vasco Brazão.

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