Secções
Entrar

O silêncio que rodeia a ministra da Administração Interna

Rita Rato Nunes 22 de agosto de 2025 às 07:00

É um mistério como é que Montenegro se lembrou do nome de Maria Lúcia Amaral para esta pasta, bem como a origem da ligação da ministra ao PSD, que a indicou para o Constitucional e para o lugar de provedora da Justiça. Para este último cargo, a sugestão veio de Passos Coelho, segundo as escutas da ‘Operação Tutti Frutti’.

No final de uma declaração de quatro minutos e meio para anunciar o prolongamento da situação de alerta por causa dos incêndios, Maria Lúcia Amaral levantou-se e disse "vamos embora", sem responder a nenhuma pergunta dos jornalistas. Quem com a ministra se cruzou ao longo da vida, contactado pela SÁBADO, também rejeita falar sobre a antiga vice-presidente do Constitucional. E mesmo dentro do Governo ou entre destacados militantes sociais-democratas a dúvida repete-se e fica sem resposta: como é que Luís Montenegro se lembrou do nome de Maria Lúcia Amaral para a pasta da Administração Interna? Respeitada na área do Direito, e, apesar de ter muita experiência à frente de cargos públicos, sociais-democratas admitem que lhe "falta prática operacional" e que a comunicação não tem corrido bem. Perante as criticas da oposição a uma ministra ausente, o Governo fecha-se em copas.
Maria Lúcia Amaral, ministra da Administração Interna, em foco após nomeação para o Governo António Pedro Santos
Foi encaminhada pelo PSD e mostrou-se, por várias vezes, desalinhada com a instituição judicial quando esta travou as intenções do Executivo de Pedro Passos Coelho para alargar os cortes nos salários dos funcionários públicos e tornar a redução das reformas permanente. Votou contra esta decisão do Constitucional e disse então que este tribunal "invadiu um campo que pertencia ao legislador" e os juízes tomaram decisões com "falta de rigor" e "incerteza". "Não se invalida uma norma se não se apresentarem como fundamento para o juízo razões que sustentem a evidência da violação”, redigiu na sua declaração de voto, citada pelo Expresso, que termina desta forma: "Afasto-me radicalmente desta decisão". "É ao poder legislativo e não ao poder judicial que cabe tomar a decisão quanto ao caminho a seguir.”  É depois por via de Pedro Passos Coelho que Maria Lúcia Amaral chega a provedora de Justiça em 2017 (será reeleita em 2021). Assim o sugerem escutas da investigação da ‘Operação Tutti Frutti’, reveladas em março pelo , em que o nome de Fernando Negrão é substituído pelo da atual ministra da Administração Interna, por proposta do então líder do PSD, que receberá o aval de António Costa. A passagem da provedoria para o Governo foi uma surpresa. E com a tomada de posse, em junho, Maria Lúcia Amaral ainda não teve tempo de se revelar, mas um verão quente já lhe trouxe dissabores, com a oposição a pedir explicações ou a sua substituição (no caso do Chega). O Presidente da República — não tendo sido tão incisivo quanto foi nos incêndios de 2017— também admite que a comunicação não tem corrido de feição: "Admito que quem acaba de chegar há dois meses esteja a descobrir os problemas e as respostas a dar. Isso também se aprende, eu próprio aprendi".
Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela