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Livre-CDS: A estreante e o paternalista

Sónia Bento 12 de abril de 2025 às 00:13

No primeiro frente a frente com as segundas figuras da AD e do Livre, Nuno Melo debateu com a deputada Isabel Mendes Lopes, que não se deixou esmagar pela experiência política, nem pelas ironias, algumas a resvalar para o estilo populista, do adversário

Foi o primeiro debate com as segundas figuras de dois partidos, ou seja, sem nenhum candidato a primeiro-ministro nas legislativas de 18 de maio. Como Luís Montenegro anunciou que não iria participar nos debates com o Livre, o PAN e o Bloco de Esquerda, o frente a frente entre a AD e o Livre, na TVI, realizou-se com Nuno Melo, ministro da Defesa e presidente do CDS-PP, e a deputada Isabel Mendes Lopes, líder parlamentar do partido de Rui Tavares.

A conversa começou precisamente pela ausência dos líderes partidários, com Nuno Melo, irónico, a dirigir os "cumprimentos" a Rui Tavares, pedindo a Isabel Mendes Lopes para lhe transmitir igualmente que "não lhe cairiam os parentes na lama se debatesse com o CDS". E acrescentou: "Sei que Rui Tavares está convencido que é candidato a primeiro-ministro, mas não deixe que essa circustância lhe suba à cabeça. O deslumbramento já deitou muita gente a perder". Com um sorriso paternalista, que manteria ao longo do debate, e tentando apoucar a adversária, Nuno Melo não perdeu a oportunidade de puxar pelos galões dos 50 anos de antiguidade do seu partido, tendo o Livre apenas dez. Lembrou que o CDS integra três governos – os regionais dos Açores e da Madeira e o da República – que está no Parlamento Europeu ao contrário do Livre, que governa seis autarquias e que "tem mais autarcas que o Livre, o Bloco de Esquerda, o PAN, o Chega e o Iniciativa Liberal, todos juntos".

A pedido da moderadora, Sara Pinto, Isabel Mendes Lopes esclareceu o motivo pelo qual não era Rui Tavares a sentar-se no seu lugar, com uma pergunta: "Porque é que Luís Montenegro não está neste debate?". A deputada afirmou que o seu partido sempre foi muito claro: no caso de o primeiro-ministro não ir a estúdio, Rui Tavares também não iria. E acusou Montenegro de "fugir ao debate", de "distorcer as regras a seu favor", escolhendo os partidos com quem queria debater "sem apresentar nenhum critério ou justificação".

Só para justificar a ausência de Luís Montenegro e de Rui Tavares gastaram-se quatro minutos de um frente a frente que, inexplicavelmente, durou menos do que o habitual – menos de 13 minutos para cada um. O investimento de Portugal na defesa, que agravará o défice, a questão da NATO e o problema da habitação foram os temas deste curto debate, em que a estreante deputada do Livre, apesar de tudo, não se deixou esmagar pela experiência política de Nuno Melo, nem pelas suas constantes interjeições e ironias, algumas a resvalar para o populismo, como "O Livre vive em Marte", o "fato de esquerdista" ou as "derivas estalinistas" de Rui Tavares.

O embaraço
Nuno Melo sublinhou que o Livre viabilizou dois terços das propostas do Chega e absteve-se em 67 das 93 propostas do partido de André Ventura. Na questão dos jovens e da habitação, lembrou que o Livre "votou contra a descida do IRS e do IRC" e que também "esteve do lado dos outros partidos de esquerda e do Chega na queda do Governo". Mas Isabel Mendes Lopes contra-atacou e foi buscar o facto de ter sido Luís Montenegro a arrastar o país para eleições ao pedir uma moção de confiança, sabendo que ela não iria passar.

KO
Como ministro, Nuno Melo esteve obviamente muito mais à vontade no tema da Defesa do que Isabel Mendes Lopes. Acusou o partido adversário de "irresponsabilidade no atual contexto geopolítico", revelando que "o melhor que o Livre tem para tem para dizer é que tem de se acabar com a NATO". Deu uma "lição" sobre a Organização do Tratado do Atlântico Norte, lembrando a vitória sobre os totalitarismos garantida pela NATO, graças aos Estados Unidos.

Pinóquio
Muito seguro de si, Nuno Melo quis fazer uma "nota sobre as lideranças" e disse que "quando nas últimas legislativas esteve em causa a escolha entre Joacine Katar Moreira [a ativista que foi a primeira deputada eleita pelo Livre, e que entretanto saiu do partido] e Rui Tavares, vocês escolheram Joacine Katar Moreira". Pelos vistos, o ministro da Defesa não sabia o que estava a dizer, já que foi logo corrigido pela líder parlamentar do Livre que, na época, Rui Tavares não era sequer candidato.

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