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ISCTE nega que vá financiar documentário de promoção da tauromaquia

10 de outubro de 2018 às 07:19

Na sequência de uma notícia, o PAN exigiu saber por que é que uma universidade pública vai pagar por ajuste directo um documentário para promover a tauromaquia e questionou o Governo sobre os motivos desse contrato.

O ISCTE nega estar a financiar um documentário televisivo de promoção da tauromaquia, como na segunda-feira acusou o PAN, ainda que admita a existência de erros no contrato assinado com a Direcção-Geral do Património Cultural que permitem essa interpretação.

"Não há nenhum documentário. O contrato que foi assinado e que foi tornado público está errado, não é nada daquilo que vai acontecer", disse à Lusa Luís Capucha, investigador do Centro de Investigação em Estudos de Sociologia (CIES) do ISCTE -- Instituto Universitário de Lisboa e coordenador da equipa encarregada de elaborar a candidatura da tauromaquia a património cultural imaterial de Portugal.

A atribuição da tarefa resulta de um protocolo com a Direcção-Geral de Património Cultural (DGPC) que, por não ter capacidade para desenvolver o trabalho por si própria, o encomendou ao CIES, para dar cumprimento a um dos projectos vencedores do Orçamento Participativo de 2017, que era precisamente o de elaborar essa candidatura, tendo um valor de 200 mil euros.

Na sequência de uma notícia de hoje do jornal 'i', que dava conta do contrato no qual se prevê a realização do documentário, o partido Pessoas, Animais e Natureza (PAN) exigiu saber por que é que uma universidade pública vai pagar por ajuste directo um documentário para promover a tauromaquia e questionou o Governo sobre os motivos desse contrato.

Luís Capucha negou que haja qualquer financiamento do ISCTE a esse trabalho, explicando que o que está previsto é a criação de uma plataforma electrónica que funcione como repositório de material relativo à tauromaquia e a produção de um "pequeno registo filmado da síntese de todo o material recolhido" - uma vez que as orientações são para privilegiar o recurso a suportes de imagem e audiovisuais em detrimento do texto - e "não um filme para televisão".

Segundo o contrato, o ISCTE iria pagar cerca de dez mil euros, mais IVA, pela produção do documentário, mas Luís Capucha garante que isso é um erro, que o valor diz respeito à elaboração da plataforma electrónica e do filme síntese do trabalho, mas que o custo é assegurado pelas verbas previstas no Orçamento Participativo, não havendo qualquer financiamento por parte da universidade e cabendo à DGPC a responsabilidade de adiantar as verbas necessárias à execução do projecto.

"O contrato é equívoco, reconheço, mas sobre isso não posso adiantar muito, terei de falar com os serviços do ISCTE. Fala da produção de um filme, de um documentário de televisão, e não é de todo esse o objectivo e nem sequer a plataforma de acesso aberto. Terá uma parte aberta para quem quiser depositar material. Mas os sítios onde vão estar guardados não são de acesso a aberto", disse Luís Capucha, que apontou ainda outros erros no contrato "que têm que ser revistos", como a duração do projecto para o qual foram contratados quatro investigadores e que será até Outubro de 2019 e não de três meses, como consta.

"O que posso assegurar sob palavra de honra é que a ideia da promoção de um filme para passar na televisão ou de uma plataforma aberta para promover a tauromaquia ou fazer propaganda é contrária ao que queremos fazer. O objectivo é entregar uma candidatura para que a tauromaquia possa vir a ser reconhecida como património cultural imaterial de Portugal", acrescentou.

Luís Capucha defendeu o "rigor e qualidade científica" do CIES neste como noutros projectos, garantindo que não há um ponto de vista ou orientação prévia para a recolha de material e elaboração da candidatura, e que as visões contrárias serão incluídas no trabalho que vai "olhar para a tauromaquia no seu conjunto, incluindo as diferentes perspectivas a respeito da festa de toiros".

"Não é uma matéria excluída e está explicitamente designada no contrato", disse, defendendo ainda que "a ciência não pode estar cá sujeita a princípios ideológicos que dizem o que se pode estudar e o que não se pode" e que "não há nenhuma razão para excluir a tauromaquia só porque alguns não gostam".

"Há sempre uns indivíduos que são contra. Censores não é uma invenção de agora. O PAN e o Bloco de Esquerda gostam de se armar em censores da tauromaquia. Isso não é uma coisa de agora, mas nós vamos, naturalmente, considerar essas atitudes de condenação, porque existem e fazem parte da realidade", disse ainda o professor do ISCTE.

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