Igreja e os abusos: "Pedimos desculpa por não termos sabido criar formas eficazes de escrutínio interno"
Presidente da Conferência Episcopal falou aos jornalistas depois da apresentação dos resultados da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal. Além de pedir desculpa, anunciou que bispos reúnem dia 3 de março para tomar medidas.
"É uma ferida aberta que nos dói e nos envergonha", começou por referir o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), o bispo D. José Ornelas, em reação aorelatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, divulgado esta segunda-feira, e, segundo qual, as vítimas podem ter chegado às 4.815, desde 1950.
O líder da CEP começou por lembrar os motivos que levaram a Igreja a formar esta comissão independente. "Motivou-nos a certeza comum, entre todos os bispos, de que menores e pessoas frágeis têm de sentir proteção e segurança nos ambientes da Igreja Católica, como nos pede insistentemente o Papa Francisco. Hoje, eis-nos chegados à conclusão de uma importante etapa que nos permite conhecer, de forma mais sistematizada, esta dolorosa realidade."
Perante os testemunhos recolhidos e alguns dos quais hoje revelados, D. José Ornelas pede "perdão a todas as vítimas" - as que revelaram os abusos e as que permanecem em silêncio - em nome da Igreja Católica portuguesa. "Nas vossas vidas atravessou-se a perversidade onde não deveria estar. O vosso testemunho é para nós um alerta e um pedido de ajuda a que não queremos nem podemos ficar surdos. Temos consciência de que nada pode reparar o sofrimento e a humilhação que foram provocados, a vós e às vossas famílias, mas estamos disponíveis para vos acolher e acompanhar na superação das feridas que vos foram causadas e na recuperação da vossa dignidade e do vosso futuro."
Olhando para o interior da Igreja, o bispo de Leiria-Fátima pede, em nome da Igreja, "desculpa por não termos sabido criar formas eficazes de escuta e de escrutínio interno, e por nem sempre termos gerido as situações de forma firme e guiada pela proteção prioritária dos menores". Acrescentando que quem cometeu estes crimes "tem de assumir as consequências dos seus atos e as responsabilidades civis, criminais e morais daí decorrentes".
Para o futuro, D. José Ornelas garante que a CEP "procurará encontrar os mecanismos mais eficazes e adequados para fomentar uma maior prevenção e para resolver os possíveis casos que possam ocorrer, com celeridade e respeito pela verdade. A "tolerância zero" para com os casos de abusos tem de ser uma realidade em toda a Igreja e, por isso, não toleraremos abusos nem abusadores".
Na conferência de imprensa, po bispo remeteu propostas concretas da Igreja para 3 de março, data para a qual foi marcada uma Assembleia Plenária Extraordinária dedicada exclusivamente ao debate sobre este tema e às questões contidas no relatório.
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