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Famílias com filhos com deficiência acusam Governo de "não fazer nada"

Lusa 24 de setembro de 2025 às 12:39

"Vocês não fazem nada", gritam pais e mães em representação de "alunos com dificuldades educativas que não encontram nas escolas as respostas necessárias".

Dezenas de famílias estão esta quarta-feira em protesto junto ao Ministério da Educação para exigir condições para os filhos com necessidades educativas que estão em escolas sem professores nem funcionários suficientes, lembrando que "a exclusão é solidão".
Famílias protestam por mais apoio a alunos com dificuldades educativas ANDRÉ KOSTERS/LUSA
"Vocês não fazem nada. Vocês, não fazem nada", gritam dezenas de pais e mães em representação de "milhares de alunos com dificuldades educativas que não encontram nas escolas as respostas necessárias" para os acompanhar, disse à Lusa Lourenço Santos, fundador do Movimento Inclusão Efetiva, que convocou o protesto. "A Ariana não tem perceção que está atrasada em relação aos colegas, não sei se posso dizer feliz ou infelizmente", desabafou Rosilane, mãe da menina que em breve vai fazer 10 anos mas ainda está no 3.º ano de uma escola em Arruda dos Vinhos, onde conta apenas com quatro horas de apoio semanal apesar de ter Síndrome de Sotos e autismo associado. A Ariana aprende mais devagar do que os outros meninos da sala, tem "dificuldades em verbalizar o que sente e em aprender matemática" e por isso precisava de muito mais apoio na escola, disse à Lusa a mãe, uma das muitas manifestantes do protesto. Rosilane está desde as 10:30 em frente ao Ministério da Educação, Ciência e Inovação, "a exigir, pelo menos, o cumprimento do decreto-lei de 2018", lembrando que "a exclusão é solidão". O protesto foi convocado como resposta ao "incumprimento da legislação" que garante direitos aos alunos com deficiência, neurodivergência e surdez, explicou Lourenço Santos. Há milhares de crianças em todo o país a precisar de mais apoios nas aulas, sublinhou o fundador do movimento, lembrando que existem "cerca de 90 mil relatórios técnicos pedagógicos", referindo-se ao documento que estabelece as medidas de apoio para cada um dos alunos com necessidades educativas, que podem ir desde uma simples dislexia até a uma deficiência profunda. "As crianças estão sujeitas à sorte do sítio onde nascem", lamentou Filipa Nobre Pinheiro, explicando que "numa escola pode funcionar tudo lindamente e na escola ao lado ser um desastre". Filipa Nobre Pinheiro disse à Lusa que há "grandes diferenças consoante as direções das escolas, sendo que não pode ser a criança que têm de se adaptar à escola, mas sim a escola que tem de se adaptar à criança". A filha de Rosilane conta com apenas quatro horas de apoio por semana, o filho de Lourenço tem apenas duas horas semanais com uma professora de educação especial. O menino de 10 anos, frequenta o 4.º ano de uma escola na Bobadela e o pai sabe que muitas vezes as aulas são pouco aproveitadas porque "o Pedro precisava de ter alguém ao seu lado durante as aulas". As histórias das famílias hoje em protesto em Lisboa são diferentes mas os motivos que as unem são sempre os mesmos: Faltam professores, faltam técnicos especializados, técnicos operacionais e até terapeutas. "As escolas são uma selva", acusou Paula Frazão, que não teve dúvidas e colocou o filho autista numa comunidade de aprendizagem na Serra da Arrábida. O menino de 11 ano é um dos 60 alunos que "aprendem na floresta através de jogos e cada um ao seu ritmo". A explicação sobre o funcionamento da comunidade foi dada à Lusa por Sofia Ferreira, uma menina de nove anos e aluna do 4.º ano que hoje trocou as aulas na Arrábida pela rua em frente ao Ministério da Educação, onde passou a manhã acompanhada por tutoras e colegas no que dizem ser uma "aula de Cidadania". Com um cartaz onde se pode ler "Incluir é não desistir", Sofia Ferreira disse à Lusa gostar de estar numa escola onde estão meninos com necessidades educativas. O ministério da Educação tinha agendado uma audiência para 29 de setembro com representantes do movimento, mas esta manhã chegou a notícia de que seriam recebidos por volta das 12:30 pelo secretário de estado adjunto e da educação, Alexandre Homem Cristo. Os representantes do movimento já entraram para a reunião e os manifestantes aguardam pelos resultados em frente ao Ministério. A deputada do Livre Filipa Pinto esteve presente no protesto em solidariedade com as famílias
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