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Especialistas dizem que "estamos a pagar o preço" do alívio no Natal

06 de janeiro de 2021 às 20:59

"Foi um risco calculado e não se pode dizer que fosse surpresa para quem está por dentro destas coisas", dizem os especialistas sobre novo máximo de casos.

O aumento de casos de covid-19 verificado hoje deve-se ao alívio das restrições no país durante a época do Natal, sendo previsível que os números se mantenham altos nos próximos dias, afirmaram especialistas à Lusa.

"Estamos a pagar o preço de ter aliviado um bocadinho as medidas de contenção quando foi o Natal e o Ano Novo. Foi um risco calculado e não se pode dizer que fosse surpresa para quem está por dentro destas coisas", afirmou o infeciologista Jaime Nina.

Portugal registou hoje 10.027 novos casos de infeção com o novo coronavírus, o valor diário mais elevado desde o início da pandemia, e 91 mortes relacionadas com a covid-19, segundo a Direção-Geral da Saúde (DGS).

Este é o maior aumento diário de infeções desde o início da pandemia, ultrapassando o máximo registado em 31 de dezembro, dia em que foram notificados 7.627 casos.

Segundo disse à Lusa Jaime Nina, infeciologista do Hospital Egas Moniz, só vai começar a verificar-se uma diminuição significativa do número de infeções por covid-19 "quando se começar a sentir o impacto da vacinação, particularmente, nos idosos e nos lares".

"Lá para fim de março ou início de abril, se não tivermos passado para metade o número de mortos que temos neste momento, fico muito admirado", referiu.

Jaime Nina adiantou ainda que "faz confusão" que o Governo "continue só a insistir na máscara, no confinamento e, até certo ponto, no distanciamento social" e que só estejam a ser feitos rastreios de uma "minoria de casos" em Portugal. 

Para o infeciologista, o Serviço Nacional de Saúde "já está com uma resposta deficiente neste momento" aos doentes não covid, o que terá efeitos na mortalidade nos próximos anos.

"Um tumor no cólon ou da mama não mata logo a seguir. Demora vários anos a matar. Devido a atrasos de diagnóstico e de terapêutica que aconteceram em 2020, as consequências vão sentir-se, em termos de mortalidade, em 2021, 2022, 2023 e 2024", alertou.

Também em declarações à Lusa, o virologista Pedro Simas considerou que "era esperado que, devido ao aumento significativo do número de contactos no Natal e no Ano Novo, aumentassem as infeções" pelo vírus SARS-CoV-2, que provoca a doença covid-19.

Os números de hoje "devem-se aquilo que era esperado e que sociedade portuguesa estava à espera", adiantou Pedro Simas, ao admitir que nos próximos dias o número de casos "pode aumentar" no país.

"Estamos a viver o princípio do efeito dos contactos. Cada vez se torna mais difícil conter a disseminação do vírus, porque cada vez mais há novos focos de infeção", referiu o especialista, para quem "vai notar-se uma grande diferença" nos números da pandemia com a vacinação progressiva que já está a decorrer.

Pedro Simas defendeu que, face à situação epidemiológica em Portugal, é importante proteger as pessoas que pertencem a grupos de risco e que estão fora dos lares.

"Entre 01 de outubro e 15 de dezembro, 75,5% da mortalidade veio dessas pessoas e isso faz com que seja necessário proteger esses grupos de risco", salientou Pedro Simas, que disse concordar com a orientação dada aos hospitais públicos da região de Lisboa e Vale do Tejo para suspender a atividade não urgente e elevar os seus planos de contingência devido ao agravamento da situação epidemiológica.

"O que é expectável é uma maior pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde. É previsível que isso seja o início de uma fase exponencial e temos de nos preparar. Concordo com essa medida", afirmou.

A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.869.674 mortos resultantes de mais de 86,3 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 7.377 pessoas dos 446.606 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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