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Diplomata espanhol diz que PS pediu "proteção" a Franco após 25 de abril

16 de abril de 2019 às 13:14

Inocencio Arias ocupava o cargo de conselheiro da embaixada espanhola em Lisboa, no período da Revolução portuguesa.

Inocencio Arias, ex-conselheiro da embaixada de Espanha em Portugal, disse à agência de notícias Efe que em 1975 os socialistas portugueses "pediram proteção" ao ditador espanhol "caso fosse necessário".

"O Partido Socialista (PS)pediu aFranco(1892-1975) para cruzar a fronteira no caso de as coisas piorarem em Portugal" disse à Efe o diplomata Inocencio Arias que ocupava o cargo de conselheiro da embaixada espanhola em Lisboa, no período da Revolução portuguesa.

Arias, em entrevista à jornalista Mar Marin da agência Efe refere-se aos acontecimentos ocorridos após o 25 de Abril de 1974 recordando que Espanha e Portugal, nas décadas anteriores, se encontravam sob ditaduras e que Franco e Salazar "não foram amigos", mas "articularam" um "Pacto Ibérico" para reforçarem o poder.

Após o golpe do Movimento das Forças Armadas (MFA) segue-se o "Verão Quente de 1975" que colocou em confronto aqueles que mantinham o espírito da Revolução iniciada "pelos capitães de Abril" e os que "defendiam uma viragem à esquerda".

Arias refere que os socialistas portugueses temiam um golpe "da ala radical" e procuravam alternativas e nesse contexto um enviado de Mário Soares, líder do PS, reuniu-se com o embaixador espanhol em Portugal, António Poch.

"A reunião foi em minha casa" recorda Arias que não identifica o "enviado" mas acrescenta que, no dia seguinte, o embaixador se mostrou preocupado.

"Isto é muito sério, tens de ir imediatamente a Madrid. Ditou-me uma carta", afirmou Arias.

A carta era dirigida ao ditador espanhol Francisco Franco e a mensagem referia que os socialistas portugueses em caso de golpe podiam cruzar a fronteira sem ser detidos.

"A resposta foi verbal, não foi por escrito: 'Podiam entrar'. Estavam a dizer-lhes, subliminarmente, que provavelmente teriam de entrar pelo monte e não pela fronteira", continua o diplomata espanhol.

"Não queriam exilar-se em Espanha, mas tinham de encontrar um sítio para onde irem sem problemas", assegura Arias.

O plano a que Arias se refere é considerado "absurdo e sem fundamento" pelo socialista João Soares, filho de Mário Soares.

"Isso era impossível. Franco era inominável", disse João Soares à Efe, negando que o pai tencionava abandonar Portugal depois do 25 de Abril.

Mesmo assim para Inocencio Arias, o pedido não era descabido.

"O ambiente era pesado. Houve um momento (12 e 13 de novembro 1975) em que um grupo de esquerda cercou o parlamento", frisa o diplomata.

O ex-conselheiro recorda também os acontecimentos de setembro de 1975 marcados pelo ataque à embaixada de Espanha, em Lisboa.

"Havia gente que queria que cortássemos a luz até que invadíssemos e Franco perguntou: 'aconteceu alguma coisa aos espanhóis? Disseram-lhe que não. 'E a embaixada como está? É preciso esperar'. E ficou por aí", relata Arias.

O ditador Francisco Franco morreu a 20 de novembro de 1975, facto que dá início ao período de "transição" para a democracia, em Espanha.

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