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"Demónio" do fogo matou animais e destruiu carros quando "varreu" quinta de José

09 de agosto de 2018 às 17:29

"Morria a gente e morriam os bombeiros. Três minutos depois tínhamos morrido todos", assegura José Filipe. "Não sei que fogo era este...".

O "demónio", como lhe chama José Filipe, varreu na segunda-feira à tarde o lugar do Esgravatador, no concelho de Monchique, matando cerca de 60 animais e destruindo várias viaturas. Da sua quinta, salvaram-se a casa e os cães.

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Foto: Lusa
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"Parecia que o demónio vinha aí. Em cinco minutos varreu isto tudo", descreveu José Filipe à agência Lusa, na Quinta das Hortenses, onde mora com a mulher, o filho e a nora.

O fogo que deflagra no Algarve há sete dias "já tinha passado" próximo no domingo, mas foi na segunda-feira à tarde, cerca das 16:00, que as chamas regressaram. Começou a descer o monte rapidamente e a família e os bombeiros só tiveram tempo de fugir.

"Morria a gente e morriam os bombeiros. Três minutos depois tínhamos morrido todos", assegura, comentando: "Não sei que fogo era este...".

Conta que perdeu diversas viaturas, que a Lusa encontrou completamente queimadas num parque uns metros antes da habitação, bem como os animais: porcos, galinhas, galos, patos e coelhos, num total de "cerca de 60".

Tudo o que estava na horta também foi destruído. Laranjeiras, pessegueiros, tomateiros e até os depósitos de água.

"E ficou assim, esta tristeza", diz, enquanto aponta para a propriedade quase toda 'pintada' de negro.

Só à noite conseguiram sair da casa do vizinho onde ficaram abrigados e, depois, ainda andaram a combater as chamas, apesar do fumo intenso, que não permitia ver quase nada.

"Era fogo em todo lado. Andámos com as mangueiras e baldes a apagar, a apagar até termos água. Quando se acabou a água vá lá que o fogo já estava mais controlado", relata.

Do que foi amealhando "ao longo dos anos", salvaram-se a casa e os cães, que José conseguiu levar para a garagem.

"O fogo era tão rápido que passou por cima da casa", explica, enquanto o filho, ali por perto, avalia os estragos nos tubos que permitem regar a horta da propriedade.

Depois do combate às chamas, juntamente com a vizinhança, José e a família decidiram entrar em casa, apesar de não haver electricidade.

"Abrimos as portas e íamos tombando. Um escaldão. Ar quente, quente, por todo o lado", afirmou.

O incêndio rural, que está a ser combatido por mais de mil operacionais, deflagrou na sexta-feira à tarde em Monchique, no distrito de Faro, e lavra também no concelho vizinho de Silves, depois de ter afectado, com menor impacto, os municípios de Portimão (no mesmo distrito) e de Odemira (distrito de Beja).

Segundo um balanço feito hoje de manhã, há 36 feridos, um dos quais em estado grave (uma idosa internada em Lisboa), e 299 pessoas estão deslocadas e distribuídas por centros de apoio, depois da evacuação de várias localidades.

Outras nove pessoas acamadas estão dispersas por unidades de saúde.

De acordo com o Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais, as chamas já consumiram 23.478 hectares. Em 2003, um grande incêndio destruiu cerca de 41 mil hectares nos concelhos de Monchique, Portimão, Aljezur e Lagos.

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