Secções
Entrar

Debate Rio-Catarina entre o fantasma da "troika" no PSD e do PREC no BE

16 de setembro de 2019 às 07:30

Objetivos do PSD passam por "retirar o PCP e o BE da esfera do poder". BE criticou revisão da lei laboral.

O debate entre os líderes doPSDe doBEfoi hoje centrado em questões económicas, comCatarina Martinsa "colar" o adversário ao passado da "troika" e Rui Rioa alertar para os riscos das nacionalizações bloquistas.

Os dois líderes "arrumaram" as divergências logo no início do debate, reconhecendo, ambos, que têm conceções muito diferentes da sociedade portuguesa, e passaram à frente, para a troca de argumentos e acusações, embora sem subir o tom nem perder o sentido de humor.

Logo no início, sobre em quem votar, se PSD ou BE, para evitar que o PS tenha maioria absoluta, a líder bloquista ironizou que Rui Rio já dissera que queria "enfraquecer o Bloco" nas legislativas, em vez de ganhar as eleições, ao que o líder social-democrata explicou, com uma gargalhada, que "se quisesse perder eleições tinha que ser internado".

E, já mais a sério, explicou que os objetivos do PSD passam ir a "eleições para ganhar" e por "retirar o PCP e o BE da esfera do poder", assim como a esquerda terá um objetivo inverso, com os partidos de direita.

Nos primeiros minutos do frente a frente, Catarina Martins tentou colar Rio ao passado recente do Governo de direita, do PSD e do CDS, que quererem "empobrecer o país", durante o período de intervenção da "troika", de terem feito privatizações "por tuta-e-meia".

Uma acusação que levou o presidente dos sociais-democratas a defender que o anterior executivo teve de aplicar um "programa que não era o seu", mas sim o negociado pelo governo do PS, de José Sócrates", que levou o país à bancarrota em 2011.

E foi nesta parte do debate que Rio comparou o programa eleitoral bloquista aos tempos de radicalização revolucionária, após a "revolução dos cravos", em 1975, o Processo Revolucionário em Curso (PREC), com a nacionalização de bancos e seguradoras, por causa das nacionalizações dos CTT, REN, EDP ou ANA.

"O que está no programa do BE é parecido ao PREC", afirmou Rio, que alertou para os riscos de estas medidas fazerem "disparar para patamares brutais" a dívida pública portuguesa, que é "a terceira ou quarta mais alta" na União Europeia e "uma das mais altas no mundo".

"Porque não são tostões, como diz o Bloco de Esquerda", atirou Rui Rio.

Catarina Martins respondeu com números, pelo menos quanto aos CTT e REN, dado que nas suas contas, a recuperação do controlo público destas empresas custaria 150 milhões de euros (50 milhões para a REN e 100 milhões para os CTT).

E socorreu-se de uma frase no programa eleitoral do PSD, contra as "promiscuidades entre decisores políticos e elites financeiras" para criticar tanto sociais-democratas como socialistas pelo "assalto feito ao país" na mais recente vaga de privatizações.

O BE contou-os e alega que há dezenas de ex-ministros e ex-secretários de Estado do PSD e do PS nessas empresas -- na EDP 18, no BES 13, no BCP 17.

Foi essa promiscuidade que a líder bloquista invocou para atacar o programa eleitoral de Rio, em que defende um aumento das parcerias público-privadas na área da saúde.

Rui Rio fez a defesa da sua opção, embora sublinhe que o PSD é a favor do Serviço Nacional de Saúde (SNS) público, "mas não deve deixar de contar com os privados e o setor social".

"Se um dado hospital conseguir fazer mais e melhor com a mesma verba, eu vou dizer que não?", questionou, sublinhando que o atual Governo do PS, com o apoio do PCP e do BE, é responsável pelo atual estado do setor da saúde em Portugal.

A líder bloquista ainda criticou o PSD por, a avaliar pelo programa eleitoral, "não querer investir mais dinheiro" no SNS e "não quer contratar" mais pessoas, ao que Rio comentou, fazendo lembrar a frase do líder histórico comunista, Álvaro Cunhal, o debate, em 1975, com Mário Soares, fundador do PS. "Olhe que não, olhe que não."

Seguiu-se o debate sobre a revisão da lei laboral, em que Rio confessou que o PSD não se importava que a legislação ficasse como está, mas foi sensível ao acordo de concertação social, o que ajuda a explicar a abstenção da bancada social-democrata no parlamento.

E Catarina Martins apontou as críticas ao PS e afirmou que a lei não combate a precariedade nem "puxa pelos salários" dos trabalhadores.

Para o fim, ficou a frase "de sinceridade" do ex-presidente da câmara do Porto.

A uma pergunta do moderador Pedro Pinto, Catarina Martins explicou o que quis dizer, numa entrevista à Lusa sobre os "traços de autoritarismo" do oponente.

A dirigente e deputada bloquista explicou que o que a surpreendeu foi a frase de Rio de que não sentia particular entusiasmo em ser deputado, também numa entrevista à agência. "Quem se candidata tem de respeitar quem elege", disse Catarina.

Ao que Rio respondeu, "com sinceridade", que, não sendo "politicamente correto", dissera isso porque, mais do que voltar ao parlamento, o que o motivou a concorrer a líder do PSD foi disputar eleições legislativas, ganhar e ser indicado pelo partido para primeiro-ministro.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela