1. A democracia portuguesa conheceu várias crises políticas, algumas graves. A última foi a subordinação da soberania nacional à troika, que durante vários anos governou Portugal por interposto governo Passos-Portas, após o desastre financeiro do último governo de Sócrates. Os profundos danos sociais que esse período deixou ainda hoje perduram e são o pano de fundo de muitas das reivindicações que estão a paralisar escolas e hospitais. Mas há várias razões para considerar a crise de 2023 mais grave, porque está muito para além de ser uma crise inserida num contexto internacional de colapso financeiro da banca, e das dívidas nacionais, antes se estendendo a todo o tecido da democracia: instituições do estado, partidos, actores políticos e aquilo a que se chama “justiça”.