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O argumentista Pedro Marta Santos imagina como celebrará o 25 de Abril daqui a 20 anos
Daqui a 20 anos, com a liberdade de pensar devidamente reforçada e a liberdade de agir suficientemente coagida, celebrarei o 25 de Abril em cálices de espumante bruto Soares dos Santos no meu T1 sem garagem em Samora Correia, a garrafa adquirida graças a uma reforma de 500 yuan (58,64 euros), o apartamento a pagar até 2052 em prestações do Deutsche Schlaube Bank, garantidas por um quarto de século de textos para a SÁBADO e duas décadas de guiões de folhetins para a TV Zimbo 4D angolana, revendo notablet trapezoidal, comprado em 2ª mão, as mensagens holográficas enviadas pela minha afilhada a partir da Serra Leoa, nação faustosa para onde a miúda emigrara em 2021, enquanto contemplo os paquetes de recreio indianos e brasileiros deleitando-se no estuário do Tejo, assoberbados por letãs cremosas e plutocratas da Nova Federação Russa, que atiram rublos para as margens atulhadas de crianças ribatejanas, magras como fagulhas, ao serviço dos pais, ex-funcionários públicos a lítio e Xanax após levarem em cima com a realidade mercantil da sobrevivência, instalados nos sótãos e nas águas-furtadas dos avós exangues que deliram com Oliveira Salazar e o Quinto Império, a definharem face aos pré-históricos ecrãs OLED onde uma pivô de telejornal, estranhamente parecida com o fantasma de Judite Sousa, perora sobre os 67 megamilionários heróis que possuem agora tanta riqueza como 93% da população do globo, num sistema planetário em que a democracia é verdade formal mas arqueológica e o Estado-nação se evaporou para dar lugar a redes aracnídeas de corporações bancárias e tecnológicas que detêm as subsumidas matérias-primas e, caridosamente, vão empregando o lúmpen infinitamente qualificado. O MP13 toca uma canção de terreola junto ao Sado, hoje desaparecida, na voz de um homem de rosto grave chamado Zeca e, entre dois tragos de espumante, recordo o mesmo dia, 20 anos antes, quando ainda fora possível aos portugueses, por breves momentos, sonhar a ilusão do futuro.
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Talvez não a 3.ª Guerra Mundial como a história nos conta, mas uma guerra diferente. Medo e destruição ainda existem, mas a mobilização total deu lugar a batalhas invisíveis: ciberataques, desinformação e controlo das redes.
Ricardo olhou para o desenho da filha. "Lara, não te sentes confusa por teres famílias diferentes?" "Não, pai. É como ter duas equipas de futebol favoritas. Posso gostar das duas."