Curvado outra vez sobre o computador, estendo-me em considerações várias, ricas de anotações políticas, históricas, sociológicas sobre as mulheres e as viúvas dos escritores portugueses, coisas solidamente arquitectadas que tento à força conter dentro dos limites razoáveis.
Estou em maré alta de inspiração. Corro para a mesa, sento-me na cadeira, ligo o computador com ímpeto e imediatamente me ponho a escrever o título: Mulheres da Literatura Portuguesa. Quando começo a alinhar a primeira frase, reparo nuns olhos de 3 anos fitando-me, investigando o que estou a fazer. É a minha filha. Quer ver desenhos animados, a legítima diversão, o natural recreio dela depois do jantar e antes de adormecer, altura em que lhe conto, às escuras, uma história inventada. Desenhos animados: um processo infalível quando se precisa de uns bons 45 minutos para trabalhar. Depois de atender ao pedido da fedelha, entrego-me de novo às leis da escrita. Sinto-me preparado mentalmente para um artigo com grande estilo e imaginação. Do meu lado esquerdo tenho cadernos cheios de notas para futuros textos. Às vezes olho para eles, outras paro para pensar. Sou arrancado à contemplação por um pedido desesperado: "Tenho fome! Quero comer alguma coisa!" No começo tenho sempre uma certa tolerância, pergunto-lhe o que é que lhe apetece. Pedincha-me uma bolachinha e um iogurte igual aos da escola.
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Através da observação da sua linguagem corporal poderá identificar o tipo de liderança parental, recorrendo ao modelo educativo criado porMaccobye Martin.
Ficaram por ali hora e meia a duas horas, comendo e bebendo, até os algemarem, encapuzarem e levarem de novo para as celas e a rotina dos interrogatórios e torturas.
Já muito se refletiu sobre a falta de incentivos para “os bons” irem para a política: as horas são longas, a responsabilidade é imensa, o escrutínio é severo e a remuneração está longe de compensar as dores de cabeça. O cenário é bem mais apelativo para os populistas e para os oportunistas, como está à vista de toda a gente.