Sábado – Pense por si

Fernando Esteves
Fernando Esteves Editor da SÁBADO
12 de julho de 2016 às 17:29

Não, não teremos sempre Paris...

Enquanto uns tentavam festejar, outros ocupavam-se a boicotar, a destruir e a roubar.

…mas, como bem sublinharia Cristiano Ronaldo, esse poeta imprevisto, que sa foda. Sim, que sa foda. Que sa foda porque Paris foi nossa, inteiramente nossa, por uma noite. Que sa foda porque Paris, a Paris que para Humphrey Bogart e Ingrid Bergman nunca passou de uma dolorosa ilusão de felicidade, foi o cenário real da concretização de um – do nosso - sonho. Que sa foda porque Paris, cidade de amores impossíveis, foi o palco em que os portugueses se reconciliaram com parte do seu passado – social, político, desportivo… - e o cenário mais que perfeito de uma improvável paixão entre uma nação e um anti-herói que precisou de apenas 31 minutos para a conquistar com um pontapé de uma nobreza épica, quase como quem diz "não importa que me desprezem porque eu sempre vos amei". Que sa foda, finalmente, porque na noite de domingo Portugal e os portugueses não ganharam apenas no Stade de France – foram obrigados a cerrar fileiras para sobreviver fora das quatro linhas, nos Campos Elísios, para onde foram celebrar. Eu sei porque estava lá quando uma garrafa arremessada por um francês particularmente alterado me passou a uns centímetros da cabeça antes de se esmagar ruidosamente no chão. Sei porque logo a seguir ouvi o som dos petardos a explodir um pouco por todo o lado. Sei porque vi o ar assustado de um jovem português poucos minutos após ter sido cercado por um grupo de marginais franceses que, à falta de melhor para fazer naquela noite, decidiram roubar-lhe a carteira. Sei, por fim, porque também assisti incrédulo à indiferença quase total da polícia francesa face à violência em curso. Enquanto uns tentavam festejar, outros ocupavam-se a boicotar, a destruir e a roubar. Mas aquelas pessoas – as porteiras, os padeiros e os trabalhadores da construção civil, sim, mas agora acompanhados pelos seus filhos  nascidos em França mas tão ou mais apaixonados do que os seus pais por um país que objectivamente desconhecem - estavam ali para ficar, para dar o peito às agressões e às cargas da polícia francesa. E ficaram o tempo que quiseram a agitar orgulhosamente as suas bandeiras e a massacrar orgulhosamente as buzinas dos seus carros até à exaustão. Porque Paris, na noite de domingo, era deles. Era nossa. A conquista foi real, aconteceu. Quanto ao resto, aos franceses ressabiados, aos larápios encartados, à polícia ausente, às garrafas voadoras e aos petardos intimidatórios, bom, quanto a isso, isso que sa foda – mesmo. 

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