Sábado – Pense por si

Bruno Nogueira
Bruno Nogueira Humorista
13 de novembro de 2024 às 23:00

O desequilíbrio do amor

Não há dois amantes que se amem por igual, porque os pesos são diferentes de cada lado; e o que levou cada um até àquele momento é o resultado de uma tapeçaria única e irrepetível.

NÃO SEI BEM se significo para os outros o mesmo que os outros significam para mim. Na verdade, nem é assim que deve funcionar. O equilíbrio é estético, mas não é matéria da vida real. Há sempre uma balança desajustada em cada relação, independentemente de qual seja a sua natureza. Não há dois amantes que se amem por igual, porque os pesos são diferentes de cada lado; e o que levou cada um até àquele momento é o resultado de uma tapeçaria única e irrepetível. Acredito que lá pelo meio haja momentos em que se esteja mais perto desse equilíbrio, mas é um ponteiro irrequieto e fugidio, daqueles que tremem muito e não encontram descanso. Pode parar, mas é por pouco tempo. Já todos gostámos mais do que gostavam de nós, ou vice-versa. A dor que vem desse desencontro pode tocar em pontos delicados do peito. No fundo, o amor é a maior mentira que inventámos. Não porque seja falso, mas porque nunca é igual para os dois lados. O pior do desequilíbrio no amor é que não há nada mais humano. Sentamo-nos à mesa todos os dias, partilhamos o pão, o vinho, o silêncio, aceitando que é assim mesmo, faz parte, é a vida. Vamos engolindo o que sobra de amor como quem engole um comprimido, de olhos fechados, sem saber se faz bem ou se prolonga a doença.

Para continuar a ler
Já tem conta? Faça login

Assinatura Digital SÁBADO GRÁTIS
durante 2 anos, para jovens dos 15 aos 18 anos.

Saber Mais