Scrollar nas redes sociais é o acto mais passivo-agressivo que o ser humano descobriu desde o “estou quase a chegar” dito a quilómetros de distância do destino onde nos esperam. Em vez de enfrentarmos o que nos mete medo, passamos ao lado, fintamos o destino sem sabermos que é ele que nos está a fintar.
O DICIONÁRIO diz que, em termos informáticos, o scroll é a acção que permite deslocar na horizontal ou vertical a informação (texto, vídeo, imagens) num ecrã, usando o toque de forma a ver conteúdo adicional. Scrollar nas redes sociais é o acto mais passivo-agressivo que o ser humano descobriu desde o “estou quase a chegar” dito a quilómetros de distância do destino onde nos esperam. Em vez de enfrentarmos o que nos mete medo, passamos ao lado, fintamos o destino sem sabermos que é ele que nos está a fintar. Em vez de nos expormos ao que nos incomoda, fazemo-nos de sonsos e seguimos para a frente de olhos postos em nada. Vai-se subindo e descendo desajeitadamente, como quem folheia uma revista com imagens que desaparecem mal nos chegam aos olhos. Dizem que o Facebook agora é para os velhos, mas todos os outros – Instagram, Tik Tok – mais cedo ou mais tarde acabam por se transformar naquilo de que fugimos. A experiência é simples e repetitiva, mas apesar disso nunca nos parece igual: estamos sempre à espera de algo que finalmente nos faça parar, que esteja à altura daquilo que nem nós sabemos o que é, ou – a forma mais irónica de todas – que seja inspirador. Mas a promessa adia-se, e então continuamos. O scroll nunca se dá por vencido, porque funciona na base da falsa esperança. Os nossos dedos fazem o trabalho sujo, de baixo para cima, como se estivéssemos a tentar abrir uma gaveta cheia de tesouros. E de vez em quando lá achamos que encontramos algo: um gato que faz um salto extraordinário, uma receita de panquecas com aveia, ou a melhor maneira de apanhar moscas da fruta. Mas é tudo rápido e insustentável, pequenas dopaminas que evaporam mal começamos a ver o vídeo seguinte. E no fundo sabemos que não são aqueles os tesouros que procuramos; são lixo emocional reciclado, que já vimos muitas vezes mas que, de alguma forma, ainda nos parece novo.
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