Sábado – Pense por si

Alberto Gonçalves
Alberto Gonçalves
26 de maio de 2015 às 08:00

Língua estufada

O AO permitiu que o idioma que já se praticava maravilhosa mas obscuramente nos romances, na academia, no jornalismo, na retórica política, nos programas televisivos e nas “redes sociais” indígenas alcançasse projecção, desculpem, projeção internacional

Quase nem valeria a pena lembrar o que aconteceu à língua inglesa. Durante séculos, foi falada e escrita de maneiras diferentes na Inglaterra e na Irlanda, na América e na Austrália, na Libéria e no Gana. Não era uma simples questão de cor local, mas uma tragédia que levava um sujeito de Norwich, em Norfolk, a rabiscarcoloure um sujeito de Norwich, Connecticut, a preferir color. E nunca os governos dos referidos países, inspirados por académicos e cidadãos responsáveis, impuseram um padrão comum, que unisse a grafia de Monróvia, Uganda, à de Monrovia, Califórnia. Se houve gente sensata a propor a união, ninguém a ouviu. O resultado é o que se sabe: o inglês definhou e hoje apenas subsiste, para consolo de nostálgicos e excêntricos, no cinema, na televisão, na música popular, na Internet, nos jogos de vídeo, na diplomacia, em muita literatura contemporânea, em boa parte dos ensaios científicos e no jargão das ruas do Ocidente. O desleixo paga-se caro.

Para continuar a ler
Já tem conta? Faça login

Assinatura Digital SÁBADO GRÁTIS
durante 2 anos, para jovens dos 15 aos 18 anos.

Saber Mais