Sábado – Pense por si

Alberto Gonçalves
Alberto Gonçalves
12 de maio de 2015 às 08:00

Diário de viagem (I)

Enquanto correspondente, sou o equivalente dos romancistas portugueses que garantem ser as personagens a escrever os seus livros. Comigo, as notícias também se escrevem sozinhas – se esperarem por mim não vão longe

Dia 1, Nova Iorque.Telefonam-me a inquirir se estou disponível para comentar na televisão os motins de Baltimore. Não estou. Primeiro, porque não gosto de falar para televisões, sobretudo de borla. Segundo, porque acabei de aterrar em Newark e não faço ideia do que se passa em Baltimore. Por fim, porque não valeria a pena. Há dois anos, o atentado de Boston coincidiu ao minuto com a minha chegada aos EUA. Nos dias seguintes, cirandei por Boston e pelos lugares onde a polícia caçava os terroristas, mas a proximidade não me deu uma única informação singular: acabei a acompanhar as notícias pelosmedia. Em Cabinda teria ficado a saber o mesmo. Enquanto correspondente jornalístico, sou o equivalente daqueles romancistas portugueses que garantem ser as personagens, e não eles próprios, a escrever os seus livros. Comigo, as notícias também se escrevem sozinhas – se esperarem por mim não vão longe.

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