Um ano devia ser mais do que suficiente para resolver um problema das pessoas - aquilo para que os políticos são eleitos - como o do voto por correspondência. Pelos vistos, não foi.
Durante anos, Luís Filipe Vieira sempre tentou separar publicamente a sua qualidade de dirigente desportivo da de construtor imobiliário. Quis afastar o estatuto de presidente de um dos maiores clubes portugueses do de empresário com relações privilegiadas com a banca. Mas o que as escutas da Operação Cartão Vermelho mostram é que essa separação pública não correspondia ao que sucedia em privado: funcionários do clube participavam nos negócios pessoais do presidente; as viagens do Benfica serviam para convencer empresários amigos a colaborar nos interesses privados do dirigente máximo benfiquista; as instalações do clube eram usadas como cartão de visita para exercer influência individual; e os negócios do Benfica serviam por vezes para canalizar investimentos ou donativos para a sua rede de amizades e familiar. Era um mundo em que o símbolo da águia era usado para abrir as portas necessárias com o objetivo de rechear a carteira de Luís Filipe Vieira e do seu círculo mais próximo. E em que o papel do presidente se misturava realmente com o de empresário. Essas escutas registaram apenas o que ocorreu nos últimos três anos. O que permite levantar a questão: o que aconteceu em todos os anos anteriores, antes de as conversas começarem a ser registadas pelos inspetores da Autoridade Tributária?
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O Estado português falha. Os sucessivos governos do país, falham (ainda) mais, numa constante abstração e desnorte, alicerçados em estratégias de efeito superficial, improvisando sem planear.
A chave ainda funcionava perfeitamente. Entraram na cozinha onde tinham tomado milhares de pequenos-almoços, onde tinham discutido problemas dos filhos, onde tinham planeado férias que já pareciam de outras vidas.