Sábado – Pense por si

Vítor Sousa
Vítor Sousa Escritor e poeta
26 de agosto de 2016 às 17:09

O cartel

Era uma vez. "Só uma", prometeu. Depois perderam a conta. Sucederam-se os casos infelizes, medidas inevitáveis, ponderosas

Era uma vez. "Só uma", prometeu. Depois perderam a conta. Sucederam-se os casos infelizes, medidas inevitáveis, ponderosas. No início, o paraíso era um lugar próximo, mas o cartel foi crescendo, o que obriga sempre a ajustes. Alcançar o poder não foi tarefa árdua. Um favor aqui, um relâmpago ali, a astúcia habitual de quem nasceu para ver de cima e orientar o tráfego. Espinhoso foi mantê-lo. Muitas bocas para alimentar, expectativas para gerir, lutas ferinas por posições mais próximas do chefe, leilões de cabeças que acabavam a decorar bandejas nos castings de garçons, membros podres obrigados ao corte cirúrgico para evitar a gangrena. Terrível, doloroso, mas um sentido estético ímpar. Reaproveitava-se tudo nos banquetes. Caras-metade empratadas no buffet, bodes expiatórios no churrasco, depois de bem temperados com especiarias e receitas ancestrais de maldições. O chefe patrocinava tudo, mas não aparecia. Cada vez mais reservado, quase oculto, limitava-se a transmitir algumas ordens aos seus predilectos.

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