A compreensão do nosso comportamento e da forma como ele é influenciado pelo contexto determina a necessidade de que o investimento na construção da paz seja permanente.
Esta sexta-feira, 24 de Fevereiro, assinalamos o aniversário de dois momentos muito relevantes para pensarmos a Europa e o Mundo, no presente e futuro. Nove anos do afastamento forçado do governador de Sevastopol, maior cidade da Crimeia e maior porto do Mar Negro, e entrega da função a um represente russo, concretizando o início da ocupação da Crimeia. Um ano do início da segunda fase de invasão da Ucrânia pela Federação Russa, com o bombardeamento de várias cidades ucranianas, incluindo Kiev, e a invasão do território com meios terrestres. Duas fases, é certo que com diferentes reações (internacionais), de uma Guerra que desrespeita o direito internacional e os direitos humanos. De uma Guerra que muito desafia. Mas, como em quase tudo, de uma Guerra que corre o risco de ser naturalizada.
Mas recuemos a quatro momentos. A 24 de Fevereiro de 2021, exatamente um ano antes do início da segunda fase desta Guerra, escrevia o primeiro texto desta rubrica "Ao Redor..." Chamei-lhe "Nós e os nossos Mundos" e nele escrevi que "procurar compreender o nosso comportamento – e os pensamentos (cognições) e sentimentos (emoções) a ele associados – e como este é influenciado e influencia o contexto que o determina, creio interessar ou mesmo fascinar a todas/os. Fez de mim psicólogo." Neste duplo aniversário evoco esta passagem na perspetiva do quão fundamental é enquadrarmos o comportamento e a tomada de decisão humana no seu contexto e em como este é profundamente influenciado pelo comportamento e tomada de decisão das pessoas. Termos isso presente é essencial para pensarmos o comportamento, do mais banal ao mais excecpcional. É essencial para pensarmos a Guerra.
Mais tarde, a 30 de Dezembro de 2021, também no "Ao redor..." escrevi um texto sobre um desejo (meu) para o 2022 que aí viria. Chamei-lhe "Um desejo para 2022? Construirmos mais paz" e nele escrevi que "conforme sucede com a saúde mental, também a paz é comummente definida como a ausência de guerra. Creio que 2022 será um ano particularmente desafiante no que à paz diz respeito e que, também por isso, será importante que pessoal ou profissionalmente, em contexto privado ou público, conversemos sobre ela e disseminemos que, indo muito além da ausência de guerra, a paz representa a harmonia, a civilidade entre pessoas e comunidades e a serenidade, e que compreendê-lo será fundamental para a promovermos. Para a promovermos em Portugal, na Suíça ou nos Estados Unidos da América, não apenas na Síria, em Myanmar ou na fronteira da Ucrânia com a Rússia." Nele falava, também, da quebra progressiva de confiança nas instituições, na democracia e, particularmente, nas instituições e nas profissões que funcionam como mediadores sociais e do risco que isso representa no presente e para o futuro.
Já há exatamente um ano, a 20 de Fevereiro de 2022, Zelensky escrevia na sua conta na rede social Twitter: "Defendemos a intensificação do processo de paz. Apoiamos a convocação imediata do GCT [Grupo de Contacto Trilateral] e um cessar-fogo imediato". Escreveu-o e informou Macron da situação no leste da Ucrânia e dos ataques das milícias separatistas. Enquanto isso, a Federação Russa negava qualquer intenção bélica e afirmava ter retirado parte do contingente da zona (tinha, pelo menos, 150.000 soldados junto à fronteira com a Ucrânia). Neste jogo de sinais e do simbolismo do mesmo, ressalta a ideia de que o passado pode mesmo encontrar as suas formas de se repetir, mesmo que isso nos pareça improvável e, particularmente, como a perceção do risco vai evoluindo e condicionando os nossos comportamentos. A sua análise e consideração nos processos de construção de paz ou, noutro exemplo, na promoção da saúde pública é essencial porquanto, por vezes, bons resultados ou indicadores positivos fazem com que a perceção de risco de determinado acontecimento / situação baixe tão consideravelmente que nos predispõe menos para determinadas iniciativas ou comportamentos de (auto) proteção ou, até, a acreditarmos ou não na sua possibilidade.
Finalmente, recuemos a 2002 e à constituição da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) para recordar o seu preâmbulo e a mensagem de "que uma vez que as guerras se iniciam nas mentes dos homens, é nas mentes dos homens que devem ser construídas as defesas da paz". Recordemo-la para sublinhar o quão importante é procurar, activamente, combater a naturalização da Guerra como estado que se (pode) interioriza(r). Recordemo-la para que mantenhamos ativação e reação sobre o nosso redor e para que atitudes de não-complacência e de apoio à procura da resolução da Guerra não sejam desafiada pelas dificuldades (sócio-económicas, por exemplo) que dela resultam, conforme, ainda assim com alguma racionalidade, Putin e outras e outros líderes têm procurado que suceda. Isso o devemos, conforme nossa responsabilidade solidária moral, em primeiro lugar às ucranianas e ucranianos que muito sofrem com cada minuto mais de um contexto de Guerra, mas também a uma Europa e um Mundo de paz, de permanente e empenhada construção de paz e de permanente e empenhado reforço da cooperação, harmonia, civilidade e serenidade. Diria, também, de democracia, de confiança nas instituições e nas pessoas.
A compreensão do nosso comportamento e da forma como ele é influenciado pelo contexto determina a necessidade de que o investimento na construção da paz seja permanente. Tal qual determina termos presentes que, sim, o passado pode encontrar formas de se repetir, particularmente quando muitos acreditamos no contrário, a partir exatamente da nossa baixa perceção de risco, geradora de menor envolvimento na preservação das instituições, da civilidade e da paz. Ainda, determina que tenhamos presente que tendemos a naturalizar quase todas as condições humanas, incluindo a Guerra, pelo que ativa e empenhadamente temos de o contrariar, não aceitando e não compactuando com as violações de direitos que a mesma comporta.
Na verdade, aqui e ali, no Mundo ao redor, talvez seja importante lembrarmos Erasmo de Roterdão que, viajante e construtor de pontes entre povos, escreveu há mais de 500 anos no seu "A Guerra e a queixa da Paz" que se "formássemos um cálculo justo do custo da guerra e o da busca da paz, veríamos que a paz pode ser comprada a um décimo do custo dos cuidados, labores, problemas, perigos, despesas e sangue envolvidos numa guerra." Buscar a paz era, é e será sempre o caminho que nos aproxima da convivência entre povos e de um Mundo melhor. Lutemos por ela, pelas ucranianas e ucranianos. Por todas e todos nós.
Sexta-Feira, 24 de Fevereiro – Dia da não-naturalização
Fazer a nossa parte depende de os cumprirmos, através das nossas acções, contributo para acções de quem nos rodeia e para instituições que assentem nesses valores e que tenham a confiança da população para os prosseguirem, mesmo nos períodos em que isso possa ser mais difícil e desafiante.
Ferramentas simples como programar envios de emails ou de outras comunicações ou agendar reuniões onde se parte de um memorando já feito ajudam a "despacharmos" trabalho e são um importante contributo que, se todos adoptássemos mais, apoiaria significativamente a possibilidade de conciliação de todos
É estranho que, nas inúmeras e longas reflexões que vejo serem realizadas sobre a quebra de resultados escolares das crianças e adolescentes em indicadores internacionais ou em provas de aferição, raras vezes se discutam os níveis de bem-estar e o impacto que têm no seu envolvimento, motivação, nas aprendizagens e no seu desempenho.
Os EUA e os seus períodos eleitorais nos últimos anos, particularmente os três que envolvem Donald Trump, são um profundo exemplo do impacto da empatia.
Quem, com mais alguns anos que eu ou mais ou menos da minha idade, assistiu à emergência do fenómeno das televendas, não esquece os inúmeros e pomposos anúncios a produtos que prometiam mudanças profundas da nossa vida.
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O humor deve ser provocador, desafiar convenções e questionar poderes. É um pilar saudável da liberdade de expressão. Mas quando deixa de ser crítica legítima e se transforma num ataque reiterado e desproporcional, com efeitos concretos e duradouros na vida das pessoas, deixa de ser humor.
O poder não se mede em tanques ou mísseis: mede-se em espírito. A reflexão, com a assinatura do general Zaluzhny, tem uma conclusão tremenda: se a paz falhar, apenas aqueles que aprendem rápido sobreviverão. Nós, europeus aliados da Ucrânia, temos de nos apressar: só com um novo plano de mobilidade militar conseguiríamos responder em tempo eficaz a um cenário de uma confrontação direta com a Rússia.
Queria identificar estes textos por aquilo que, nos dias hoje, é uma mistura de radicalização à direita e muita, muita, muita ignorância que acha que tudo é "comunista"