Olhar a sério para o autocuidado
Cuidarmos de nós não é um luxo ou um capricho. Nem é um assunto que serve apenas para uma próxima publicação numa rede social. É um compromisso com a própria saúde, com a qualidade das nossas relações e com o nosso papel na comunidade.
Uma das consequências de estarmos expostos a uma realidade caracterizada pela incerteza, pela mudança em direções imprevisíveis, por ciclos noticiosos de 24 horas, pela digitalização e fluxos constantes de dados, no grande mercado de disputa pela atenção em que aparentemente vivemos, é a sobrecarga e a exaustão que podemos sentir. Uma sensação que pode levar uns a estados de hipervigilância ansiosa e/ou zangada e outros a uma espécie de desligamento emocional e cívico em relação ao mundo.?
Num contexto com estas características, não admira que o autocuidado seja cada vez mais considerado uma necessidade vital. E, no caso das profissões designadas de ajuda ou dedicadas ao cuidado dos outros, em que os Psicólogos se incluem, seja visto até como uma questão ética. Estes profissionais lidam com elevada exigência emocional, marcada pela necessidade de empatia, de acompanhamento do sofrimento do outro e não poucas vezes em situações de escassez de recursos, o que redunda frequentemente na designada fadiga de compaixão.?
Mas o autocuidado não pode ser uma palavra gasta ou da moda, nem mais um objeto reluzente que está no grande bazar da saúde mental e do bem-estar a que temos assistido, no qual todo o tipo de personagens tem algo para oferecer. A isto já nos referimos numa outra ocasião e continuaremos a fazê-lo, já que a transformação das questões de saúde mental e bem-estar num assunto pop comporta sérios riscos de banalização, descredibilização, ineficácia e sobretudo de dano para as pessoas.
O autocuidado corresponde a uma prática consciente e intencional de preservação da saúde do bem-estar e de gestão dos nossos recursos perante um ambiente que nos desafia constantemente. Expressa-se em diversas ações, que vão desde pequenos gestos ou hábitos, como realizar atividades prazerosas ou simplesmente parar para respirar e identificar o que sentimos, até estabelecer limites saudáveis no trabalho e manter relações interpessoais significativas. Mas, acima de tudo, é cuidarmos de nós de forma a respondermos às nossas necessidades psicológicas básicas de sermos competentes ou capazes, autónomos e de termos ligação aos outros.?
(Aliás, a importância das relações interpessoais com qualidade como pilar do autocuidado não pode ser subestimada. Por exemplo, o conhecido Estudo de Harvard sobre o Desenvolvimento Adulto, conduzido ao longo de várias décadas, demonstrou que o fator mais determinante para uma vida longa e feliz não são os recursos financeiros, o estatuto profissional ou a saúde física, mas sim a qualidade das relações que estabelecemos.)
E não é apenas uma responsabilidade individual isolada. Os contextos em que vivemos e trabalhamos têm impacto direto no nosso bem-estar, através das condições que podem favorecer o autocuidado. Tal como já afirmámos, uma cultura institucional saudável deve ter o bem-estar como princípio estruturante.
Cuidarmos de nós não é um luxo ou um capricho. Nem é um assunto que serve apenas para uma próxima publicação numa rede social. É um compromisso com a própria saúde, com a qualidade das nossas relações e com o nosso papel na comunidade. Num tempo marcado pela instabilidade, pela sobrecarga informativa e pela exigência emocional constante, é um ato de responsabilidade e de humanidade. É garantir que, apesar de tudo, preservamos a nossa dignidade.?
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