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Enviada de segunda a domingo às 21h
O digital aproximou-nos e encurtou distâncias, mas ocupou o tempo morto e normalizou a comparação.
O mundo está a mudar mais depressa do que conseguimos acompanhar. As tendências desenham-se e evoluem paralelamente, com movimentos, contra-movimentos e comportamentos que se completam nos seus opostos. Surgem modas, que adoptamos e obrigamos, pela alteração dos nossos comportamentos, a que outras sejam criadas. No digital, que usamos sem parcimónia, a fadiga é real. Todos nos queixamos do sempre ligado e do sempre presente e, contudo, estamos lá, mesmo quando queremos não estar. É insustentável, contrariamente ao que o regresso ao passado, que se assume como recordação sustentável, tende a representar. No marketing e na comunicação, a tendência já tem nome, marcas e organizações começam a fazer uso desta palavra que é também uma espécie de movimento social. A nostalgia é um antídoto sustentável, abranda o ritmo e devolve pertença, num regresso selectivo ao passado para viver melhor o presente.
Vivemos entre notificações e feeds intermináveis. O digital aproximou-nos e encurtou distâncias, mas ocupou o tempo morto e normalizou a comparação. O saldo é ambivalente: pertença e acesso de um lado, ansiedade e dispersão do outro. São as gerações mais novas a fazer a inversão. Um estudo recente da WGSN explica que as emoções dominam o presente, reorganizando as nossas escolhas para nos devolver foco e atenção, usando a tecnologia sem deixar que esta nos use, a nós. Todas juntas, estas tendências, das marcas, organizações e das pessoas, explicam as feiras de vinil (que já existiam e ganham maior preponderância), os artistas que lançam os seus discos apenas em vinil, o ressurgimento das máquinas fotográficas analógicas ou da polaroid, na sua versão original, e nas versões mais modernas, os telefones de teclas e o abandono das redes sociais. Menos e melhor, mais tempo e privacidade, escolhas com menos interferência do algoritmo. É o passar da euforia à consolidação do real, que foi sempre irreal.
A Geração Z, sempre ligada e de telemóvel em riste, renegocia o contrato com os ecrãs. Em Espanha e outros países, as notícias dão conta da alteração e muitos recuperam gestos antigos, exploram a vida ao ar livre, abandonam redes sociais, aprendem a tricotar ou a remendar roupa, dando uma nova vida ao seu guarda-roupa, compram em segunda mão e valorizam peças vintage, bem como o comércio e a vida de bairro.
A nostalgia que é, também, a sensação de que controlamos o presente numa valorização do que se perdeu com o excesso que encontramos no digital. Também na gastronomia, regressamos ao essencial. Ainda que a reinvenção das tostas inclua quase sempre, abacate, os principais restaurantes advogam o local e o tradicional. Cozinhar, recuperando tradições, faz parte do menu. O Chefs on Fire, que acontece este mês em Cascais, é disso um bom exemplo porque se cozinha de forma tradicional: reúne chefs e cozinha a fogo, recentrando a experiência em sazonalidade, partilha e tempo. A brasa é linguagem comum: técnicas ancestrais, ingredientes simples, desperdício reduzido. O passado não é cenário ou criação para atracção porque o sucesso deste evento, também em outras cidades, transforma o fogo em método, num formato que é tanto desafio quanto surpresa. Também aqui, o telemóvel será secundário e mesmo a comunicação do evento prova que o importante são as pessoas e o que estas podem fazer, não tanto o que as pessoas têm para mostrar, centrando o que há a dizer no que poderemos provar.
Nada contra a tecnologia que tanto nos vem ajudar mas tudo contra uma certa incapacidade para a domesticar. Se IA pode libertar tempo, e as redes fomentam uma comunidade, a verdade é que os mundos não se opõem, complementam-se. O passado mantém-se como uma prática sustentável. Esta nostalgia, e espécie de regresso ao passado, se usada com critério (o nosso, e não o que nos for imposto), será uma excelente forma de atear o fogo de uma nova relação com o nosso quotidiano. Mais quente, humana, próxima e sustentável. Como uma refeição, preparada numa fogueira.
Na Europa, a cobertura mediática tende a diluir a emergência climática em notícias episódicas: uma onda de calor aqui, uma cheia ali, registando factos imediatos, sem aprofundar as causas, ou apresentar soluções.
O Estado português falha. Os sucessivos governos do país, falham (ainda) mais, numa constante abstração e desnorte, alicerçados em estratégias de efeito superficial, improvisando sem planear.
A ideia de que a IA pode tomar conta do mundo pode parecer cinematográfica mas é cada vez mais real. Contudo, a Apple divulgou um estudo no qual afirma que todos este modelos não pensam, apenas memorizam.
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Só espero que, tal como aconteceu em 2019, os portugueses e as portuguesas punam severamente aqueles e aquelas que, cinicamente e com um total desrespeito pela dor e o sofrimento dos sobreviventes e dos familiares dos falecidos, assumem essas atitudes indignas e repulsivas.
Identificar todas as causas do grave acidente ocorrido no Ascensor da Glória, em Lisboa, na passada semana, é umas das melhores homenagens que podem ser feitas às vítimas.
O poder instituído terá ainda os seus devotos, mas o desastre na Calçada da Glória, terá reforçado, entretanto, a subversiva convicção de que, entre nós, lisboetas, demais compatriotas ou estrangeiros não têm nem como, nem em quem se fiar