Longe vão os tempos em que nos acusávamos mutuamente e existiam, nas empresas, discussões acesas sobre quem fez o quê e quem deveria ter feito.
Todos os dias, em todos os lugares a conversa é a mesma. Falamos da noção - ou da falta dela - queixamo-nos dos outros sem olharmos para nós. E, quando olhamos para o outro, raramente conseguimos ver além da superfície e, menos ainda, conseguimos usar o outro como uma espécie de espelho. Porque a vida, em si mesma, é uma reacção em cadeia na qual tudo está de tal forma interligado que não temos como desvendar se foi o ovo ou a galinha que nasceu primeiro. O mesmo princípio aplica-se à relação entre as pessoas, cada vez mais assoberbadas pela vida, sofrendo violentamente com factores de stress, os mesmos que vão provocar reacções as quais, por sua vez, provocam outras, num crescendo que termina, invariavelmente, com uma rápida análise rematada pela "falta de noção". Como chegámos até aqui? Quando foi que tudo o que pensamos, sentimos e dizemos passou a ter um tempo de processamento que não se coaduna com o mundo real? O que aconteceu para que nos tornássemos tão pouco empáticos, tão centrados no que sentimos e tão pouco na forma como o outro está a sentir-se, enquanto usamos a verborreia construtiva e positiva que gentilmente acusa o outro de incompetência? Como foi possível que tudo se tenha tornado tão confuso, ao mesmo tempo centrado num grande e colectivo umbigo, que pertence a todos nós, sem pertencer a ninguém? O que aconteceu para que nos seja tão difícil calçar o sapato do outro, que é uma forma de dizer, ver o mundo a partir da perspectiva do outro?
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
O descontentamento que se vive dentro da Polícia de Segurança Pública resulta de décadas de acumulação de fragilidades estruturais: salários de entrada pouco acima do mínimo nacional, suplementos que não refletem o risco real da função, instalações degradadas e falta de meios operacionais.