A grande questão está em saber se a coragem de assumir posições políticas ainda vale mais pessoas nos comícios e nas urnas do que o velho truque da dramatização e do discurso de ódio.
Hoje, 5 de novembro de 2024, têm lugar as eleições mais importantes do mundo e talvez das últimas décadas. Sim, não é só por serem os Estados Unidos da América, gigante político, económico e cultural. É também por estar em causa a eleição de Donald Trump, cada vez mais radical no ataque aos imigrantes e aos seus adversários, cujo momento alto teve lugar a 6 de janeiro de 2021 num ataque popular à casa da democracia americana, o Congresso, no exato momento em que este certificava os resultados eleitorais e com a intenção expressa de o prevenir.
Não sou qualificado para fazer previsões de resultados eleitorais e, de qualquer modo, a nossa curiosidade será satisfeita em não mais do que 24 horas da leitura deste artigo. Se tiver azar, já o lê com spoilers. Acho, porém, que, independentemente do resultado eleitoral, devemos refletir sobre a campanha que Kamala fez e as lições que isso possa trazer para a nossa própria política.
Ainda que das mais bem-sucedidas em termos económicos e até legislativos, a administração Biden não se revelou popular, sobretudo comparado com os seus antecessores. O Presidente incumbente, podendo, não se recandidatou, depois de um debate que lançou dúvidas sobre a sua acuidade mental. Sem a realização de novas eleições primárias, Harris assumiu a candidatura à Casa Branca em nome do Partido Democrata, gerando um suspiro coletivo de alívio que energizou um partido e várias gerações.
Claro que Kamala nunca foi popular. O seu legado como procuradora da Califórnia foi controverso, designadamente em matéria de violência policial e consumo de canábis. Apesar de algumas fortes prestações em comissões de inquérito enquanto Senadora, na campanha presidencial de 2020, Kamala nem chegou aos boletins de voto das primeiras primárias, no Estado do Iowa. Já como Vice-Presidente, as gaffes sucederam-se e o seu índice de favorabilidade simplesmente não descolava.
Nesta eleição, as coisas correram de forma diferente. Em cidade após cidade, a advogada afro-asiática conseguia superar desconfianças e recordes de mobilização nos seus comícios, com uma mensagem fortemente assente no apelo a determinadas bases eleitorais, como as mulheres ou os hispânicos. Nos últimos dias, os peritos em sondagens, Ann Selzer primeiro, em Iowa, e agora Jon Ralston no Nevada, passaram a prever vitórias de Harris em estados tipicamente republicanos, corrigindo as previsões anteriores e o seu viés pro-Trump.
Claro que Haris não fez tudo bem. Não me refiro à escolha de candidato a vice-presidente, onde os mais cínicos recordarão que em vez do afável Tim Walz a campanha podia ter escolhido o governador do decisivo estado da Pensilvânia, Josh Shapiro. Walz foi mesmo das surpresas agradáveis da candidatura pelo seu talento genuíno e apelo familiar. Um exemplo melhor é à onda de indignação gerada por um "establishment" cultural que anuncia o seu apoio a Harris no mesmo ciclo noticioso em que se descobre sobre o seu envolvimento nas festas de P. Diddy.
No que é essencial, a mensagem, esta candidatura teve uma abordagem diferente. Por detrás do riso nervoso de Kamala está uma mulher que, enfrentando uma poderosa marca de desinformação e um perigoso dogma de liberalismo, assumiu com coragem a defesa da IVG, a legalização da canábis e a utilização de regulação económica no lugar de mais discriminação negativa e impostos redistributivos.
Uma eleição é, obviamente muita coisa. Uma vitória dos Democratas ou dos Republicanos não quer dizer que a mensagem chegue, dentro da bolha ou seja com quem for. Com o impasse pré-anunciado no Congresso, o provável é que a mensagem de qualquer governação encontre sérios obstáculos à sua viabilização parlamentar. A grande questão, porém, está longe de ser essa. Está em saber se a coragem de assumir posições políticas ainda vale mais pessoas nos comícios e nas urnas do que o velho truque da dramatização e do discurso de ódio. No final do dia, é a saúde da democracia que está em risco.
Álvaro Almeida, diretor executivo do SNS, terá dito, numa reunião com administradores hospitalares, que mesmo atrasando consultas e cirurgias, a ordem era para cortar.
O problema começa logo no cenário macroeconómico que o Governo traça. Desde o crescimento do PIB ao défice, não é só o Governo da AD que desmente o otimista programa eleitoral da AD.
Até pode ser bom obrigar os políticos a fazerem reformas, ainda para mais com a instabilidade política em que vivemos. E as ideias vêm lá de fora, e como o que vem lá de fora costuma ter muita consideração, pode ser que tenha também muita razão.
Ventura pode ter tido a sua imagem em cartazes pelo país fora que não engana os eleitores. Os portugueses demonstraram distinguir bem os atos eleitorais.
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O regresso de Ventura ao modo agressivo não é um episódio. É pensado e planeado e é o trilho de sobrevivência e eventual crescimento numa travessia que pode ser mais longa do que o antecipado. E que o desejado. Por isso, vai invocar muitos salazares até lá.
O espaço lusófono não se pode resignar a ver uma das suas democracias ser corroída perante a total desatenção da opinião pública e inação da classe política.
É muito evidente que hoje, em 2025, há mais terraplanistas, sim, pessoas que acreditam que a Terra é plana e não redonda, do que em 1925, por exemplo, ou bem lá para trás. O que os terraplanistas estão a fazer é basicamente dizer: eu não concordo com o facto de a terra ser redonda.