Sábado – Pense por si

Maria J. Paixão
Maria J. Paixão Investigadora
16 de junho de 2024 às 10:00

O mundo de ontem

Numa boa parte da imaginação coletiva dos europeus continua a residir uma Europa mítica que já não existe – uma Europa da liberdade, dos direitos humanos e da prosperidade. Muitos dos europeus que se agarram a essa imagem são incapazes de identificar as profundas transformações em curso.

Em 1942, um dia antes de se suicidar, Stefan Zweig entregou ao seu editor o manuscrito da autobiografia que viria a ser publicada sob o título "O Mundo de Ontem". A obra começou a ser escrita em 1934, quando Zweig deixou Viena, a sua terra natal, no rescaldo da ascensão do nazi-fascismo alemão e do austro-fascismo. O livro celebrizou-se por fornecer uma descrição detalhada e sensível (quiçá, romântica) da Europa do início do séc. XX, em especial das metrópoles cosmopolitas como Viena e Paris. A aura d’ O Mundo de Ontem é profundamente melancólica – Zweig descreve uma Europa não só em declínio, mas em extinção. A constatação dessa Europa perdida era a grande causa do seu sofrimento. Tendo mantido ao longo de toda a vida uma postura apolítica passiva, foi com incompreensão e assombro que assistiu ao desenrolar da primeira metade do séc. XX. O próprio reconhece que tendo testemunhado profundas transformações, não as reconheceu no início. Agora que escrevia, o sol já se punha em Roma, parafraseando Shakespeare.

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