Sábado – Pense por si

Maria J. Paixão
Maria J. Paixão Investigadora
09 de junho de 2024 às 10:05

O paraíso deve ser aqui

Tudo indica que o ecocídio na Palestina, embora agora especialmente notório, tenha longa duração, integrando uma estratégia mais ampla de espoliação, dirigida à criação artificial de uma terra infértil de ninguém, disponível para ser apropriada e cultivada.

No seu filme de 2019, o realizador palestiniano Elia Suleiman retrata o sentimento de não pertença que se tornou constitutivo da identidade palestiniana. Numa tragicomédia quase muda, Suleiman procura, de Paris a Nova Iorque, um novo lar, apenas para regressar à terra mãe palestiniana. Apesar do tom leve, ‘O Paraíso deve ser aqui’ tem o poder místico de, ao mesmo tempo, causar desconforto, desassossegar e humanizar. Além das questões da violência e da ocupação sublimemente retratadas no filme por via da comédia, a obra de Suleiman destaca-se por nos apresentar uma Palestina que não esperávamos. O filme abre com paisagens solarengas cheias de vida. As oliveiras, os tons dourados e a brisa suave transportam-nos ao Alentejo. O infinito azul ao fundo não pode deixar de tocar a nossa marítima alma lusitana. Essa é, desde logo, uma das fontes de desconforto ao longo do filme – aquela terra palestiniana, retratada como paraíso, não corresponde à imagem pré-concebida no Ocidente.

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