União Europeia: de humilhação em humilhação até ao aniquilamento final
Compensa viver em Democracia e em sociedades organizadas segundo o modelo do Estado de Direito.
E Trump foi ao Alasca para se encontrar com Putin e, como qualquer pessoa minimamente conhecedora do que acontece no mundo real já antecipadamente sabia, voltou a Washington de mãos vazias.
Pelo contrário, Putin obteve uma muito importante vitória política e diplomática, pois, ainda que por pouco tempo, viu ressuscitada a época das cimeiras EUA/URSS em que as duas superpotências decidiam o destino do Mundo.
Mera aparência, claro, mas o que é certo é que, com este encontro bilateral, caiu por terra, de modo definitivo, a ladainha que proclamava que, na sequência da invasão da Ucrânia, “a Rússia” (que realmente se chama Federação Russa) estava completamente isolada no concerto das Nações.
De facto, nunca o esteve porque sempre manteve relações económicas e políticas com os países do dito Sul Global, muito para além das que se enquadram no âmbito do funcionamento dos BRICS, agora BRICS+.
Claro que a invasão da Ucrânia teve custos enormes – que cada vez mais se agravam – para a Federação Russa, cuja economia, uma economia de guerra, se tornou totalmente dependente do exterior, e muito particularmente da República Popular da China.
Dada a grande animosidade que sempre existiu entre esses dois países e quando foram tantos (e será que desapareceram?) os conflitos fronteiriços que se desencadearam entre eles na zona siberiana, gostaria muito de saber como é que as elites russas suportam uma tal dependência. Muito provavelmente, só a feroz repressão interna imposta pelo governo de Putin estará a impedir o desencadear de protestos por parte da população, cujo dia-a-dia não será, de todo, muito agradável.
Claro que a qualidade de vida das populações dos países ocidentais tem vindo a degradar-se fortemente desde que a ideologia dita neo-liberal se tornou dominante nas estruturas políticas desses Estados, mas a vida daqueles que vivem sob regimes ditatoriais, talvez com excepção da China e por razões muito específicas (trata-se da, por enquanto, segunda potência mundial, em vias de se tornar a primeira), é incomensuravelmente pior.
Ou seja, compensa viver em Democracia e em sociedades organizadas segundo o modelo do Estado de Direito.
Lamentavelmente, essa efectiva realidade não consegue ser percepcionada pelos povos que vivem nesses Estados, que, cada vez mais, se entregam nas mãos daqueles que são inimigos declarados dessa forma de organização social e política.
Não é a primeira vez que isso acontece na História, mas temo que as consequências desse verdadeiro suicídio civilizacional sejam, desta vez, muito mais graves ou até irreversíveis.
Na verdade, na primeira metade de século XX do Segundo Milénio dC (depois de Cristo), por duas vezes, as nações europeias envolveram-se em guerras suicidárias, a segunda das quais (a Segunda Guerra Mundial) ia quase conseguindo destruir de vez a Democracia e a Civilização Ocidental.
E se é certo que os grandes vencedores dessa guerra (e que passaram, por isso, a dominar os destinos do planeta) foram os EUA e a então URSS, o ideário civilizacional democrático foi salvo por pessoas como Winston Churchill e Carles De Gaulle.
A URSS, tal como antes o Império Russo, e actualmente a Federação Russa, nunca foi uma Democracia, e o american way of life tem muito pouco a ver com o modo de vida dos europeus ocidentais.
Efectivamente, os EUA são um Sistema muito sui generis cujos verdadeiros contornos, que sempre existiram, estão a tornar-se extraordinariamente visíveis e patentes com esta segunda Administração Trump.
Vamos ver como irá comportar-se o sistema de freios e contrapesos face às contínuas arremetidas totalitárias e autocráticas levadas a cabo por Trump e pelos seus aliados do Partido Republicano MAGA. Para já, não está a mostrar-se muito eficaz e os direitos humanos estão a sofrer nesse país abalos significativos e profundos a cada dia que passa.
E o pior é que não são só os americanos que estão a sofrer com essa situação.
Em suma, verdadeiras democracias apenas existiram nos países da Europa Ocidental (com excepção de Portugal e Espanha, que só em 1974 e 1974 se tornaram membros desse muito pequeno grupo de Estados), no Canadá, na Austrália, na Nova Zelândia e no Japão.
Por alguma razão nesses países foi construído no pós-guerra um Estado Social de Direito (que é um aperfeiçoamento do Estado de Direito clássico, já que assenta no pressuposto de que têm de ser criadas as condições económicas e sociais que permitam aos cidadãos exercer efectivamente, no concreto dia-a-dia, os direitos que estão consagrados na letra da Lei) que não encontramos nos EUA nem em outros países que não são verdadeiras ditaduras.
Infelizmente, como já abundantemente referi (e mantenho), com a vitória, a nível planetário, da ideologia dita neo-liberal - dela sim e não da Democracia Ocidental como proclamaram os adeptos da teoria do “fim da História” -, já bem pouco resta neste Mundo desse Estado Social de Direito.
Porém, a postura suicidária dos europeus corporizada no desencadear das duas guerras que se desenvolveram, respectivamente, entre 1914 e 1918 e 1939 e 1945 dC, como antes mencionei, fez oscilar o poder real dos Estados da Europa para os EUA e a então URSS (que também era uma potência europeia, mas não democrática).
E os europeus apenas podem queixar-se deles próprios.
Num sentido contrário, alguns, não muitos, procuraram criar soluções políticas e organizativas portadoras da viabilidade de restituir aos países europeus alguma capacidade para influenciar as decisões que iam sendo tomadas acerca dos destinos do Mundo. Essas soluções foram corporizadas na criação das várias Comunidades Europeias, as quais vieram a dar origem à União Europeia.
Acontece que esse ideal europeu sempre foi mais partilhado por elites e nunca pela generalidade da população. E, pior, essas elites sempre manifestaram um profundo receio quanto à possibilidade de o aprofundamento da coesão europeia ser conseguido através de uma verdadeira participação popular.
Por outro lado, os próprios dirigentes europeus não foram capazes de - ou, porventura, nunca quiseram (e, nos dois casos, seria bom saber por que motivo tal sucedeu e continua a suceder) - assumir uma postura estratégica autónoma relativamente aos interesses económicos e políticos dos EUA.
A inexistência de uma estrutura militar unificada a nível da UE é o sinal mais evidente dessa total e amesquinhante subserviência das lideranças europeias aos ditames de Washington.
E o que se passou com a criação do euro (a moeda única europeia), que nunca conseguiu impor-se ao dólar como moeda de troca usada nas relações comerciais internacionais é um outro desses sinais de subserviência.
Recordo e sublinho de forma muito veemente, que o euro foi criado contra a vontade dos estado-unidenses (tanto republicanos como democratas).
E muitos são os exemplos que podem ser apontados, sendo que o mais ignominioso de todos é a não condenação do genocídio que está a ser praticado na Faixa de gaza pelas forças militares do Estado de Israel a mando do governo racista e xenófobo liderado por Benjamin Netanyahu, nem sequer nos termos que, muito justamente, estão a ser aplicados à Federação Russa como punição pela injustificada invasão da Ucrânia.
Ora, porque essa vergonhosa submissão é indisfarçavelmente patente para todos os países do Mundo, o anão político que a UE inegavelmente é não é respeitado (e muito menos temido) por quem quer que seja.
E se, até aqui, as sucessivas Administrações dos EUA mostravam alguma polida e educada condescendência para com a UE, a Administração Trump quebrou totalmente esse “verniz” e passou a tratar os dirigentes europeus como uns miseráveis lacaios, impondo-lhes humilhações atrás de humilhações.
E esses políticos europeus aceitam essas contínuas e sucessivas humilhações, mostrando-se alguns deles uns verdadeiros bajuladores, indignos das tradições históricas dos povos europeus.
E a cimeira Putin/Trump no Alasca e, sobremaneira, a forma vil como está a ser tratado o governo da Ucrânia e as propostas que estão a ser desenhadas por aquela dupla para solucionar o conflito russo/ucraniano, são mais uma afronta à EU.
Mas, porque a cada nova cedência e a cada nova bajulação dos dirigentes da UE, a Administração Trump responde com uma nova humilhante exigência (veja-se o conteúdo do acordo sobre tarifas – o aumento da despesa com a Defesa vai servir unicamente para comprar armamento norte-americano), a médio prazo, se é que não a curto prazo, começará a deixar de fazer sentido a existência de uma União política que não consegue defender os interesses das populações.
O que incentivará os políticos nacionais - em particular os populistas reaccionários e neo-fascistas - a defender que o melhor será negociar individual e directamente com o governo dos EUA.
E a falta de uma estrutura militar unificada incentivará esses mesmos nacionalistas a fortalecer os exércitos nacionais, com tudo o que de altamente perigoso isso significa.
Em síntese, em minha opinião, é muito real o perigo de dissolução da União Europeia, tornando todos os países europeus ainda mais irrelevantes do que já são neste momento.
Acontece, porém, que isso significará – e disso não haja dúvidas – o fim do modo de vida europeu e dos valores éticos e morais que lhe estão subjacentes e que lhe dão estrutura e consistência.
Mas não é com isso que os “grandes defensores” - na verdade, vergonhosamente falsos defensores - da Civilização Ocidental estão preocupados.
Ao invés, e na parte que me toca, vou continuar a ser um convicto europeísta, cosmopolita e universalista, porque essa é a única forma de preservar a Democracia, o Estado de Direito e salvaguardar a defesa dos direitos humanos.
E porque essa é a única forma de permitir que as minhas netas e o neto possam usufruir desse modo de vida que quero que seja o delas e dele.
Parafraseando uma antiga canção do britânico Gordon Matthew Thomas Sumner, que usa o nome artístico, Sting, oxalá os portugueses e as portuguesas e os restantes europeus e as restantes europeias amem também os seus filhos, as suas filhas, e os filhos e as filhas dos seus filhos e filhas.
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