Sábado – Pense por si

Yotam Kreiman
Yotam Kreiman Encarregado de Negócios da Embaixada de Israel em Portugal
28 de agosto de 2024 às 15:32

Gaza e a era da Pós-Verdade: “Não me incomodem com os factos!”

Capa da Sábado Edição 4 a 10 de novembro
Leia a revista
Em versão ePaper
Ler agora
Edição de 4 a 10 de novembro

É bem possível que a razão, ou a importância dos factos, nos esteja a escapar enquanto sociedade.

O genial Ricky Gervais disse: "opiniões não mudam factos". Acrescentou que "os factos, se fores razoável, podem mudar as tuas opiniões". Mas é bem possível que a razão, ou a importância dos factos, nos esteja a escapar enquanto sociedade.

Gaza é um exemplo acabado. A 17 de outubro de 2023, exactamente 10 dias depois do ataque terrorista do Hamas contra cidades e civis israelitas, que resultou em mais de 1200 mortos e 250 reféns, deu-se uma explosão em Gaza que se deveu a um rocket lançado pela Jihad Islâmica (outra organização terrorista que opera em Gaza) e que se destinava, em conjunto com outros 9, a cidades israelitas. Só que o rocket falhou, caiu perto de um hospital e fez mais de 30 vítimas. Bom, estes são os factos.

Minutos depois da explosão, o Hamas reagiu, culpando Israel e anunciando a morte de 500 a 700 civis.

Uma investigação minuciosa revelou que nada do que o Hamas publicou era verdade, isto é, nem as centenas de mortos, nem que o ataque partiu de Israel. Só que isso não teve importância nenhuma. Da Al-Jazeera à Lusa, de altos funcionários do Estado português a analistas políticos nos estúdios da CNN Portugal – todos repetiram até à exaustão a mensagem do Hamas: que a culpa era de Israel e que morreram centenas de pessoas.

Quando finalmente a verdade viu a luz do dia já não tinha importância. A difamação de Israel já se instalara e as retratações dos meios de comunicação social e das fileiras diplomáticas soaram pífias – (demasiado) discretas, poucas, tardias e irrelevantes perante o estrago que causaram.

Dou-vos outro exemplo: a 10 de agosto último, os serviços de informação israelitas tomaram conhecimento da presença de 31 membros armados do Hamas numa sala designada como mesquita - parte do complexo escolar Al-Tabaeen. O complexo foi utilizado como base de operações do Hamas (embora, por não funcionar como escola devesse ser utilizado como abrigo civil). Israel fez um ataque cirúrgico à parte da mesquita onde os terroristas estavam barricados. Num primeiro momento, o Hamas até publicou o número real de vítimas (40) mas, vendo a atenção dos media, não só alterou o número de vítimas para 93 como incluiu 11 crianças e 6 mulheres (estritamente proibidos na secção masculina das mesquitas).

O Hamas não deu provas de nada disto, não divulgou um único nome das "vítimas inocentes", ao passo que Israel publicou o nome e a fotografia de cada um dos terroristas armados que foram eliminados. Porém, e até aqui nada de novo, a Al-Jazeera arredondou o número de mortos para 100 e foi isto que a comunicação social em Portugal noticiou. Nem uma palavra sobre terroristas armados. É sempre mais conveniente noticiar "centenas de mulheres e crianças", ainda que tal seja mentira.

Imbuídos do espírito de Borrell, os altos funcionários do Estado português twitaram que o ataque a uma escola é intolerável, porque a ideia de um professor numa sala de aula cheia de crianças, alvos de um bombardeamento israelita, é intolerável. Claro que é intolerável e não podia estar mais longe da verdade, mas será que a verdade importa?

Arrasar Israel usando fake news costumava ser um passatempo de alguns radicais, poucos. Agora normalizou-se, tornou-se a regra.

Será que a verdade ainda importa ou serão as modas no Tik-Tok e nos campus universitários mais importantes do que os factos?

Mais crónicas do autor
06 de novembro de 2025 às 07:22

Como se castra um Tribunal

Amputar o Tribunal de Contas não é fazer a reforma do Estado. É abdicar dela.

04 de novembro de 2025 às 07:24

Não se fazem omeletes sem ovos

Álvaro Almeida, diretor executivo do SNS, terá dito, numa reunião com administradores hospitalares, que mesmo atrasando consultas e cirurgias, a ordem era para cortar.

04 de novembro de 2025 às 07:00

Tinha tudo para correr mal – e correu

O cenário é de tal forma disfuncional que muitos magistrados se veem obrigados a regressar ao papel, contrariando o regime legal em vigor.

03 de novembro de 2025 às 07:05

A boa liderança multigeracional

Pela primeira vez podem trabalhar numa organização até cinco gerações, um facto que, apesar de já por si inédito, não deixa de acrescentar desafios e dificuldades organizacionais, e sociais, particularmente para quem lidera pessoas.

02 de novembro de 2025 às 10:23

Sim, Ventura e o Chega têm mesmo de cumprir a lei porque Portugal não é uma Chegolândia

Ora acontece que, infelizmente, as instituições do Estado, ao seu mais alto nível, são as primeiras a prevaricar.

Mostrar mais crónicas

Salazar ainda vai ter de esperar

O regresso de Ventura ao modo agressivo não é um episódio. É pensado e planeado e é o trilho de sobrevivência e eventual crescimento numa travessia que pode ser mais longa do que o antecipado. E que o desejado. Por isso, vai invocar muitos salazares até lá.