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Paulo Batista Ramos Professor universitário
03.05.2022

9 de maio: o futuro não é história

"Desde o início da invasão militar da Ucrânia, que assistimos a um jogo psicológico provocado e manipulado pelo Kremlin. Será neste 9 de maio, que surgirá a aparição reveladora da força da Rússia, que esteve oculta nos dois últimos meses de guerra"

Ao longo das últimas semanas foi criado um filme de suspense em torno do dia 9 de maio, o qual é celebrado na Praça Vermelha de Moscovo, como o dia da vitória da Rússia soviética na Segunda Guerra Mundial. Sem se compreender porquê, iniciou-se mais uma contagem decrescente em relação a futuras ações da Rússia na sua ofensiva expedicionária através do império imaginário.

Desde o início da invasão militar da Ucrânia, que assistimos a um jogo psicológico provocado e manipulado pelo Kremlin, gerando expectativas em relação à próxima surpresa militar decisiva. Todavia, o desenrolar da guerra tem demonstrado o oposto, às sucessivas elevadas expectativas belicistas corresponde um desastre militar em crescendo.

As novidades do teatro de guerra também prosseguem desencorajadoras em relação às promessas triunfantes da "operação militar especial". Recentemente foi até noticiado que o CEMGFA russo, general Valery Gerasimov, terá sido ligeiramente ferido no campo de batalha do leste da Ucrânia.

Parece que a única surpresa consiste nos relatos verdadeiramente surreais do desempenho das impreparadas tropas russas, mais especializadas em saquear e violar populações do que em obter ganhos na frente de combate. O que terá ido um CEMGFA fazer à frente de batalha se a operação está a decorrer de acordo com o planeado?

Apesar do descalabro militar efetivo do exército russo, no Ocidente, a maioria dos líderes político-militares parecem continuar enfeitiçados pelos superpoderes do Kremlin. Confrange qualquer estomago, ver repetidas todas as narrativas pseudo-históricas apresentadas pelo facínora do Kremlin para justificar as suas atrocidades.

Será neste 9 de maio, que surgirá a aparição reveladora da força da Rússia, que esteve oculta nos dois últimos meses de guerra. Neste quadro, apenas o recurso a armas nucleares poderia significar tal revelação, cuja ameaça o Kremlin tem insinuado desde os primeiros dias da guerra.

As televisões e os comentadores russos continuam a preparar e alarmar o seu público para a vinda da Terceira Guerra Mundial. Aparentemente a salvação da Ucrânia das garras dos nazis já só será possível através do Armagedão nuclear.

Convém lembrar que o Kremlin, num passado recente, já utilizou armas de destruição massiva, nomeadamente químicas e nucleares. A morte por envenenamento, através do uso de polónio-210 radioativo, do ex-espião russo Alexander Litvinenko, em novembro de 2006, surge como o caso exemplar. Por ter criticado e exposto o "estado mafioso" que domina a Rússia, Litvinenko teve uma morte memorável.

Ainda esta semana, o Ministro da Defesa dos Estados Unidos não afastava a hipótese da Terceira Guerra Mundial, com o possível contágio do conflito russo-ucraniano à Europa de leste e aos estados-membros da NATO.

Regressando ao 9 de maio, o mais provável será a realização de mais uma parada militar, encenando o poderio nuclear russo, do qual muitos começam a também a suspeitar da usa eficácia. Claro que Putin nunca virá declarar o fim da guerra, porque apenas existe uma operação militar especial. O MNE Lavrov já o veio pré-anunciar, que as mentiras sobre a guerra continuarão de acordo com o argumento decorado.

Na realidade, os ganhos territoriais no sul e leste da Ucrânia também não se revelam significativos, a "segunda fase" da guerra vai a caminho de mais um desastre anunciado. O dilema que, cada vez mais, se impõe a Putin é como terminar a aventura imperialista, sem perder a face do poder imperial.

Putin terá de encontrar uma fórmula de perpetuar a agressão, mas pondo fim à operação militar especial. Talvez, a solução esteja no anúncio do fim dessa operação especial, que na prática já terminou, senão não seria especial, rara e particular.

Ainda lhe resta uma oportunidade de retomar o statu quo do conflito híbrido infligido à Ucrânia nos últimos oito anos. E assim, permitir a retirada progressiva das restantes e exauridas forças militares russas da linha da frente, sem perder terreno.

Quanto mais a decisão tardar, maior a probabilidade de a Rússia ter de enfrentar a crescente pujança e confiança militar de Kiyv, através de uma contraofensiva que visa tentar repor a soberania ucraniana anterior a 2014, recuperando os territórios amputados à nação.

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