O clérigo australiano pediu uma licença das suas funções na cúria romana para se defender e o pedido já foi aceite pelo papa Francisco.
O comissário-adjunto da polícia do estado de Victoria, Shane Patton, afirmou que o principal conselheiro financeiro do Papa Francisco enfrenta múltiplas acusações relativas a crimes sexuais e que existem muitas denúncias relacionadas. No entanto, o comissário não facultou pormenores sobre as alegações.
"É importante sublinhar que nenhuma das alegações contra o cardeal Pell foi ainda comprovada em tribunal", realçou Patton, acrescentando que "o cardeal Pell, como qualquer outro réu, tem direito ao devido processo".
O cardeal - que foi interrogado, em Roma, pela polícia australiana devido às acusações de pedofilia, as quais tem repetidamente negado - foi intimado a comparecer no tribunal de primeira instância de Melbourne, a 18 de julho.
Pell já veio dizer que vai comparecer perante a justiça e que está "inocente" das acusações de pedofilia. Segundo a arquidiocese de Sydney, o cardeal "afirmou estar ansioso por apresentar-se em tribunal", onde vai "negar vigorosamente todas as alegações", e limpar o seu nome.
O dirigente da Secretaria da Economia é o mais alto membro do Vaticano a ser formalmente indiciado por crimes relacionados com abuso sexual de menores.
A investigação e o percurso do cardeal
Este caso é um novo e duro golpe para o papa Francisco, cuja promessa de "tolerância zero" aos abusos sexuais cometidos por membros da Igreja católica tem prejudicado a sua credibilidade.
As acusações contra o cardeal Pell surgiram no final de uma longa investigação sobre a resposta de instituições na Austrália a abusos sexuais contra menores, exigida em 2012 pelo Governo de Camberra que estabeleceu uma comissão para o efeito.
O cardeal, de 76 anos, foi ouvido por três vezes no âmbito da investigação e reconheceu, no ano passado, diante da comissão de inquérito, que a Igreja cometeu "enormes erros" ao permitir que milhares de crianças fossem molestadas e violadas por padres. Pell admitiu ter falhado ao acreditar frequentemente nos padres em detrimento das vítimas que alegaram abusos.
Mais recentemente, o cardeal tornou-se no foco da investigação, tendo sido interrogado sobre acusações relativas a supostos abusos sexuais cometidos entre 1976 e 2001.
Pell foi ordenado em 1966 em Roma, regressando, cinco anos depois, à Austrália, onde ascendeu ao topo da hierarquia católica.
Foi sacerdote na cidade de Ballarat (1976-80), a sua terra natal, e arcebispo de Melbourne (1996-2001), ambas no estado de Victoria, no sul da Austrália.
Posteriormente, tornou-see arcebispo de Sydney e, em 2014, foi escolhido pelo papa Francisco para desempenhar a função de "ministro" da Economia do Vaticano para reorganizar a gestão e as finanças do Vaticano.