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Trump ameaça revogar licença da ABC News após perguntas incómodas de jornalista

Lusa 19 de novembro de 2025 às 08:30

"É apropriado, senhor Presidente, que a sua família faça negócios na Arábia Saudita enquanto é Presidente? Isso não configura um conflito de interesses?", questionou a repórter.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, ameaçou esta quarta-feira revogar a licença da ABC News, após uma jornalista desta cadeia televisiva fazer perguntas sobre os negócios da sua família na Arábia Saudita e o escândalo Jeffrey Epstein. 
Trump discursa após voto na ONU sobre Conselho de Paz para Gaza AP Photo/Alex Brandon)
"É apropriado, senhor Presidente, que a sua família faça negócios na Arábia Saudita enquanto é Presidente? Isso não configura um conflito de interesses?", questionou a repórter, Mary Bruce, na Sala Oval da Casa Branca, quando Trump recebia o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman.  Enquadrada na visita do regente saudita a Washington DC, a promotora imobiliária saudita Dar Global anunciou hoje uma nova parceria nas Maldivas com a Trump Organization, grupo empresarial liderado desde 2016 pelos filhos mais velhos do Presidente, Donald Jr. e Eric.  O Presidente mantém-se como acionista da Trump Organization, através de um fundo fiduciário.  A repórter dirigiu-se também a bin Salman, que os serviços de informações norte-americanos responsabilizaram pelo assassínio do jornalista Jamal Khashoggi, em 2018 no consulado saudita em Istambul, por agentes enviados da Arábia Saudita.  “E Vossa Alteza Real, os serviços de informações americanos concluíram que o senhor orquestrou o brutal assassinato de um jornalista. As famílias das vítimas do 11 de setembro [de 2001] estão furiosas com a sua presença aqui na Sala Oval. Porque é que o povo americano deveria confiar no senhor?”, acrescentou.  Os ataques de 11 de setembro nos Estados Unidos foram orquestrados por Osama bin Laden, ele próprio de origem saudita.  Enquanto a jornalista fazia as perguntas, Trump perguntava-lhe para quem trabalhava.  “Notícias falsas da ABC. Uma das piores do ramo”, retorquiu o Presidente bruscamente e visivelmente irritado.  “Não tenho nada a ver com o negócio da minha família. Saí disso”, afirmou Trump a propósito do conflito de interesses.   O Presidente respondeu por bin Salman, dizendo que este “não sabia de nada” a propósito do assassínio de Khashoggi.  “Podemos ficar por aqui. A senhora não pode constranger o nosso convidado fazendo-lhe essa pergunta”, acrescentou.  Mas, alguns minutos depois, jornalista da ABC News voltou a questionar Trump, desta vez em relação ao caso Epstein, que tem perseguido o Presidente, que respondeu ainda mais irritado.  "Sabe, não é a pergunta que me incomoda. É a sua atitude. Acho que é uma péssima jornalista!", retorquiu Trump.  "Vou dizer-lhe uma coisa. Acho que a licença da ABC devia ser revogada por as vossas reportagens serem tão falsas e erróneas", continuou.  O Presidente exortou mesmo o diretor da Comissão Federal de Comunicações (FCC), que já tinha ameaçado a ABC com sanções, a "investigar" o assunto.  "E chega de perguntas da sua parte", intimou ainda Trump.  Desde o início do seu segundo mandato, em janeiro, o Presidente já processou judicialmente vários media norte-americanos - incluindo o Wall Street Journal, New York Times e CBS – e, mais recentemente, anunciou que fará o mesmo com a britânica BBC.  Trump ataca e insulta com frequência jornalistas que fazem perguntas incómodas, qualificando-os muitas vezes de "fake news". Vários jornalistas condenaram hoje um insulto de Trump a uma jornalista, que chamou de "porquinha" e mandou calar. "Cala-te. Cala-te, porquinha", afirmou Trump, apontando o dedo a Catherine Lucey, correspondente da Bloomberg na Casa Branca, que o questionou sobre a divulgação de documentos do caso Jeffrey Epstein. Embora o insulto tenha sido feito na sexta-feira, a bordo do Air Force One, apenas hoje as imagens correram nas redes sociais, provocando indignação entre jornalistas, como Jake Tapper, um dos principais pivots da CNN, que classificou o comportamento do Presidente como "repugnante e completamente inaceitável". Gretchen Carlson, ex-pivot da Fox News,também classificou o comentário como "repugnante e degradante". A Bloomberg divulgou um comunicado onde afirma que os seus repórteres da Casa Branca "prestam um serviço público essencial, fazendo perguntas sem medo ou preconceito". "Continuamos focados em noticiar assuntos de interesse público de forma justa e precisa", acrescentou a agência noticiosa. 
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