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Trump afirma que príncipe saudita “não sabia” do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi em encontro na Casa Branca

Gabriela Ângelo 18 de novembro de 2025 às 20:33

Durante o mandato de Joe Biden, oficiais de inteligência norte-americana divulgaram um relatório a concluir que o príncipe herdeiro tinha ordenado o assassinato do crítico do regime saudita.

O presidente norte-americano, Donald Trump, recebeu esta terça-feira na Casa Branca o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, que visita o país pela primeira vez desde 2018 quando agentes sauditas assassinaram e desmembraram Jamal Khashoggi, colunista do jornal Washington Post, em Istambul. 
Trump recebe príncipe saudita na Casa Branca
Durante o mandato de Joe Biden, os oficiais de inteligência norte-americana divulgaram um relatório a concluir que o príncipe herdeiro tinha ordenado o assassinato do crítico do regime saudita. Apesar da cerimónia elaborada, com uma banda da Marinha e oficiais a cavalo a hastear as bandeiras saudita e dos Estados Unidos, não se tratou de uma visita de Estado uma vez que o príncipe Mohammed não é tecnicamente um chefe de Estado. Essa distinção cabe ao seu pai, o rei Salman bin Abdulaziz, de 89 anos.  Na reunião, Khashoggi ficou para segundo plano enquanto os líderes discutiram acordos multimilionários e o futuro de um Médio Oriente de novo em conflito. Trump acabou por rejeitar perguntas feitas ao príncipe herdeiro sobre o assassinato do jornalista. Num momento, um jornalista perguntou sobre a conclusão do relatório oficial de que o príncipe Mohammed terá ordenado o assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. Trump afirmou que o herdeiro “não sabia de nada” e atacou o jornalista dizendo que não era necessário “humilhar” o seu convidado. No entanto, depois da intervenção do líder dos EUA, o príncipe Mohammed disse que a Arábia Saudita “tomou todas as medidas corretas” para investigar o caso. “É doloroso e é um grande erro”, acrescentou. 
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Trump defende príncipe saudita no caso do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi
Foto: AP
Trump encontra-se com o príncipe saudita na Casa Branca após o assassinato de Jamal Khashoggi
Foto: AP
Trump encontra príncipe saudita na Casa Branca após polémica sobre morte de Khashoggi
Foto: AP
Trump recebe príncipe saudita na Casa Branca e nega conhecimento sobre assassinato de Khashoggi
Foto: AP
Investimentos sauditas bilionários e a venda de caças F-35 Já na Sala Oval numa conversa sobre os negócios de ambas as nações, o príncipe Mohammed disse que a Arábia Saudita “acredita no futuro dos Estados Unidos” e vai aumentar o seu compromisso de investir 600 mil milhões de dólares no país para quase um bilião de dólares. Contudo, segundo relata o jornal norte-americano The New York Times esse é o valor do fundo soberano do reino saudita. Questionado sobre o quão realista é o investimento, o herdeiro respondeu que não está “a criar oportunidades falsas para agradar aos Estados Unidos ou a Trump” e que a Arábia precisa de poder computacional e deseja chips norte-americanos.  Antes da chegada do príncipe Mohammed, Trump anunciou a venda de caças F-35 aos sauditas, apesar de algumas preocupações dentro do governo de que a venda poderia levar a China a obter acesso à tecnologia norte-americana por trás do sistema de armas avançado.  Este plano também causou alguma preocupação em Israel, um dos maiores aliados dos Estados Unidos e o único país do Médio Oriente conhecido atualmente por possuir este tipo de caças, que lhes dá alguma vantagem sobre os vizinhos árabes. De acordo com o The New York Times, apesar do gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ainda não se ter pronunciado sobre esta venda, os grupos de oposição foram rápidos em culpar o chefe do Governo ao dizer que ele não conseguiu pressionar a administração Trump contra este negócio. “O governo israelita perdeu a sua capacidade de influenciar decisões críticas para a segurança nacional”, disse Gadi Eisenkot, ex-chefe do Estado Maior israelita.  Laços com Israel só depois da solução de dois Estados Outro tema em cima da mesa é a situação de conflito no Médio Oriente. Durante o primeiro mandato Trump ajudou a estabelecer laços comerciais e diplomáticos entre Israel e Bahrein, Marrocos e os Emirados Árabes Unidos através dos Acordos de Abraão. Agora a Arábia Saudita também quer fazer parte deste esforço.  O príncipe Mohammed disse querer estabelecer ligações comerciais e diplomáticas com Israel, mas antes disso quer ter a certeza de que há “um caminho claro para uma solução de dois Estados” entre Israel e a Palestina. O líder quer que os israelitas e os palestinianos “coexistam pacificamente” na região.  Estará ainda “em discussão” a contribuição de dinheiro saudita para os esforços de reconstrução da Faixa de Gaza. No entanto, o príncipe esclarece que não está interessado em envolver-se na reconstrução ou no policiamento de Gaza num momento em que o seu capital financeiro é limitado e diz estar focado nas prioridades económicas internas.  O Conselho de Segurança da ONU aprovou esta segunda-feira um plano dos Estados Unidos para Gaza que autoriza uma força internacional de estabilização para garantir segurança no território e prevê um possível caminho para um Estado palestiniano.  Ao longo da última década o príncipe aumentou a repressão política na Arábia Saudita, apesar de ter diminuído as restrições e aumentado as liberdades das mulheres. Ainda assim, o que mantém as críticas por parte de grupos de direitos humanos é a repressão à dissidência e o aumento de execuções. Na semana passada a Amnistia Internacional afirmou em comunicado, citado pelo The New York Times, que ainda não tinha sido feita “justiça” pela morte de Jamal Khashoggi e que o encontro do príncipe Mohammed com Donald Trump ocorre num momento em que “as condições dos direitos humanos tanto na Arábia Saudita como nos Estados Unidos continuam a piorar”.
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