Secções
Entrar

TPI diz que sanções dos EUA são “tentativa clara de minar a independência" do tribunal

Lusa 06 de junho de 2025 às 07:45

Washington sancionou quatro juízes do TPI com o argumento de que os processos que tinham iniciado contra soldados americanos e o governo israelita eram ilegítimos e politizados.

As sanções impostas pelos Estados Unidos contra quatro juízes do Tribunal Penal Internacional (TPI) são uma "tentativa clara de minar a independência" do tribunal, afirmou esta sexta-feira a instituição, comprometendo-se a apoiar os seus funcionários.

"Estas medidas são uma tentativa clara de minar a independência de uma instituição judicial internacional que funciona sob o mandato de 125 Estados Partes de todo o mundo", declarou o tribunal num comunicado emitido desde a sua sede em Haia.

O TPI sublinhou que "apoia plenamente o seu pessoal e continuará o seu trabalho sem se deixar intimidar", defendendo que "visar aqueles que trabalham pela justiça não ajuda em nada os civis apanhados em conflitos" e que apenas "encoraja aqueles que acreditam que podem atuar com impunidade".

Washington sancionou hoje quatro juízes do TPI com o argumento de que os processos que tinham iniciado contra soldados americanos e o governo israelita eram ilegítimos e politizados.

"Não tomámos esta decisão de ânimo leve. Reflete a grave ameaça que representa a politização e o abuso de poder do TPI", declarou o Departamento de Estado norte-americano num comunicado, acrescentando que "estes quatro indivíduos são participantes ativos nas ações ilegítimas e infundadas do TPI que visam os Estados Unidos" e o "aliado próximo, Israel". 

Os juízes visados são Solomy Balungi Bossa e Luz del Carmen Ibanez Carranza, que estão por detrás das investigações do TPI sobre alegados crimes de guerra cometidos por soldados norte-americanos no Afeganistão.

Juntando-se também Reine Alapini Gansou e Beti Hohler, que autorizaram o TPI a emitir mandados de captura contra o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu e o seu antigo ministro da Defesa Yoav Gallant.

"Estes quatro indivíduos são participantes ativos nas ações ilegítimas e infundadas do TPI que visam os Estados Unidos e o nosso aliado próximo, Israel", acrescentou o Departamento de Estado.

Os juízes consideraram que existiam "motivos razoáveis" para suspeitar que os dois homens cometeram crimes de guerra e crimes contra a humanidade na guerra em Gaza.

Em fevereiro, os Estados Unidos já tinham imposto sanções ao procurador do TPI, Karim Khan, que tinha iniciado o processo contra o Governo israelita.

O procurador retirou-se entretanto, pois está a ser investigado por "alegada má conduta sexual".

Karim Khan negou categoricamente as acusações de ter tentado, durante mais de um ano, coagir uma assistente a ter uma relação sexual e de a ter apalpado contra a sua vontade.

As sanções congelam os ativos detidos nos Estados Unidos pelas pessoas visadas.

Nem os Estados Unidos nem Israel são membros do TPI, o tribunal permanente responsável por processar e julgar indivíduos acusados de genocídio, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.

Não fazendo parte do tribunal, estes países não reconhecem a sua capacidade para processar os seus cidadãos.

Fundado em 2002, com sede em Haia, o TPI conta atualmente com 124 Estados membros.

Durante o primeiro mandato de Donald Trump, o TPI, e em particular a sua então procuradora Fatou Bensouda, já tinha sido alvo de sanções dos EUA - levantadas por Joe Biden pouco depois de ter tomado posse em 2021.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela