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Tibetanos explicam frase "chupa-me a língua" e acusam China

Débora Calheiros Lourenço 14 de abril de 2023 às 21:48

Dalai Lama foi filmado a pedir a uma criança, na Índia, que lhe chupasse a língua. Mas alguns tibetanos descrevem momento como um elemento da cultura do Tibete.

Nos últimos dias, tornou-se viral e amplamente criticado o vídeo em que o Dalai Lama pede a uma criança que lhe "chupe" a língua. Contudo, alguns tibetanos vieram explicar que que o pedido não tem o significado que lhe está a ser atribuído.

Redes Sociais / Twitter

O vídeo remota a uma celebração em fevereiro, em que depois de uma criança pedir um abraço ao Dalai Lama, o líder espiritual de 87 anos pede-lhe que lhe dê um beijo na boca e de seguida pede-lhe que lhe chupe a língua.

A criança era indiana, pelo que o vencedor do Prémio Nobel da Paz teve de falar em inglês. Foi ai que a confusão terá começado, defendem os tibetanos. A frase original é "Che Le Sa", que pode ser mais corretamente traduzida para algo como "Come a minha língua" e, no Tibete, é comummente utilizada como uma piada para provocar e ensinar as crianças.

Jigme Ugen, um migrante tibetano que vive nos Estados Unidos, publicou umvídeono YouTube onde esclarece que a expressão não passa de uma demonstração de afeto que surgiu de uma tradição. Segundo Jigme Ugen, quando interagem com pessoas mais velhas, como por exemplo o avô, as crianças são convidadas a beijar a sua testa, a tocar no seu nariz e a beijá-lo na boca. A pessoa mais velha costuma segurar um pedaço de comida ou de um doce na boca, e dá-o à criança assim. De seguida, "o avô diz que já lhe deu tudo e que por isso a única coisa que resta é comer a sua língua". 

O inglês é a segunda língua do Dalai Lama, que só a começou a aprender aos 48 anos, pelo que os meios de comunicação indianos já referiram, anteriormente, que o líder espiritual apresenta um inglês com falhas.

No vídeo, Jigme Ugen continua: "Parece que nestes tempos turbulentos em que muitas pessoas são forçadas a entrar num ambiente onde conhecemos as pessoas virtualmente e só fazemos conexões eletrónicas, o significado da conexão humana foi completamente esquecido".


Além disso, lamenta que as acusações "horríveis" que estão a ocorrer nos meios de comunicação sociais e na internet são "claramente lideradas e pagas" pela China, uma vez que esta tem "um sucesso nas redes sociais sem precedentes" e que "a propaganda de maior sucesso é aquela que não se apresenta como tal".

Já Tsering Kyi, um jornalista tibetano residente nos Estados Unidos, partilhou com aVICEWorld News que na cultura tibetana deitar a língua de fora "é um sinal de respeito ou acordo" relativo a uma lenda que acompanha o país desde o século IX, quando o cruel rei Lang Dharma tinha a língua negra. "Desde então as pessoas mostram a sua língua como uma forma de dizerem que não são como Lang Dharma".

O jornalista esclareceu ainda que "quando uma criança quer abraçar um velho, o velho obedece e depois dá um beijo como um avô ou um pai faria e brinca com a criança".

Numa conferência de imprensa realizada na quinta-feira em Delhi, Penpa Tsering, atual líder político do governo tibetano exilado, defendeu que as investigações lideradas por si demonstram que muitas "fontes pró-China" estão envolvidas na divulgação do vídeo e que "o ângulo político deste incidente não pode ser ignorado".

Dalai Lama deixou de ser o chefe político do Tibete em 2011 mas manteve o papel de líder espiritual de mais de 6.7 milhões de tibetanos espalhados por todos os continentes. Além disso, é um símbolo da resistência do Tibete contra a anexação feita pela China em 1951 e desempenhou um papel fundamental para obtenção de apoio global para a autonomia linguística e cultural da região.

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