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Polícia lança gás para dispersar apoiantes após Mondlane anunciar nova ida à PGR

Lusa 21 de julho de 2025 às 17:26

O ex-candidato presidencial esteve algumas semanas na Europa, em contactos em Portugal e na Alemanha, e anunciou que chegaria ao aeroporto internacional de Maputo esta tarde.

Venâncio Mondlane vai ser ouvido terça-feira na Procuradoria-Geral da República moçambicana, no âmbito das manifestações pós-eleitorais, anunciou o político, ao chegar a Maputo, antes da polícia lançar gás lacrimogéneo após a saída do aeroporto, dispersando apoiantes.

João Vaz de Almada

"É um exemplo flagrante de que é um Governo que se impõe pelas armas. Sem as armas, não tem discurso. Sem as armas, não tem política. Sem as armas, não tem ideias. Portanto, é a única leitura que eu posso fazer", disse o político, que não reconhece os resultados das eleições gerais de 09 de outubro, em declarações à Lusa, já depois de sair do aeroporto de Maputo.

O ex-candidato presidencial esteve algumas semanas na Europa, em contactos em Portugal e na Alemanha, e anunciou que chegaria ao aeroporto internacional de Maputo esta tarde, tendo sido recebido por várias dezenas de apoiantes, cerca das 15:30 locais (menos uma hora em Lisboa), com cânticos de "salve Moçambique, este país é nosso", tal como na campanha eleitoral e nas manifestações pós-eleitorais.

Pelas 16:00 locais, o político, envolvido por uma moldura humana e com vários meios da polícia posicionados no interior e nas avenidas adjacentes ao aeroporto, deixou o local, em direção a casa, no centro de Maputo, percurso em que foi escoltado por várias viaturas da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), que realizaram mais de uma dezena de disparos de gás lacrimogéneo ao longo dos 10 minutos de viagem, enquanto apoiantes se concentravam nas ruas ao ver Venâncio Mondlane no tejadilho da viatura, perante um trânsito quase bloqueado.

"É, de facto, um reconhecimento de que este Governo não tem legitimidade nenhuma. Este Governo não tem base social absolutamente nenhuma. Este Governo está distanciado do povo e a única forma que eles têm de fazer política, ao invés de apresentar políticas públicas alternativas que respondam às necessidades do povo, a única forma que eles se posicionam na política é com base no campo das armas", criticou ainda.

Logo à saída do interior do aeroporto, recebido por dezenas de jornalistas e muitos apoiantes a transmitir o momento em direto nas redes sociais, entre um forte reforço policial na área, Venâncio Mondlane revelou ter sido notificado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) para prestar declarações na terça-feira, a partir das 10:00 locais, para "tomar conhecimento das respostas" aos requerimentos, devendo fazer-se acompanhar de um advogado.

Será a terceira vez que é ouvido na PGR no âmbito de, segundo dados anteriores do próprio, mais de 30 processos envolvendo as manifestações de contestação aos resultados eleitorais, afirmando esperar "alguma coisa um pouco sinistra".

"Vou estar lá presente, de consciência tranquila. Eu quero provar também a eles que nunca houve, da minha parte, perigo de fuga. Já tive várias ocasiões para estar fora do país e não voltar. E mesmo contrariando a vontade do povo, eu digo que neste momento não é momento para fugir. O momento em que eu estive no exílio [durante as manifestações pós-eleitorais] foi um momento adequado, concreto, em que eu estive para estar fora do país", explicou, nas declarações à Lusa.

"Tudo o que me acontecer, eu estou pronto. 'I'm ready'", disse, acrescentando: "Se eu entrar e sair [da PGR], glória a Deus. Se eu entrar e não sair, também, glória a Deus".

Depois do caos vivido esta tarde, novamente, como tem vindo a acontecer quando sai à rua em caravana, Venâncio Mondlane admitiu esperar um cenário idêntico na terça-feira, ao deslocar-se à PGR.

"Vamos ver, mas eu creio que as pessoas vão correr lá em massa, mas, como eu disse no aeroporto, eu não estou preocupado com a minha vida particular, porque eu já estou psicologicamente e espiritualmente preparado para isso", sublinhou.

Ainda assim, disse-se preocupado com quem o rodeia e o tenta apoiar quando surgem os primeiros disparos da polícia na rua.

"Para dizer a verdade, eu não me perturbo, mas eu fico preocupado com as pessoas. Normalmente, quando começam este tipo de cenários, eles aproveitam que é para assassinar pessoas inocentes (...) Então, eu penso muitas vezes nessas pessoas inocentes, e por aí, uma forma de minimizar, quando é assim, estava ali a cumprimentar as pessoas, eu prefiro entrar no carro, sentar-me, para evitar que as pessoas se aglomerem e possam perder a vida", concluiu.

Moçambique viveu desde as eleições de outubro um clima de forte agitação social, com manifestações e paralisações convocadas por Mondlane, que rejeita os resultados eleitorais que deram vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frelimo, partido no poder.

Segundo organizações não-governamentais que acompanham o processo eleitoral, cerca de 400 pessoas perderam a vida em resultado de confrontos com a polícia, conflitos que cessaram após encontro entre Mondlane e Chapo, em 23 de março, repetido em 20 de maio, com vista à pacificação do país.

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