Secções
Entrar

Parlamento francês vai votar moções de censura ao Governo na quarta-feira

Lusa 03 de dezembro de 2024 às 11:50

As moções surgem depois de o primeiro-ministro de centro-direita e antigo comissário europeu ter apelado na segunda-feira ao Governo de três meses para que assumisse a responsabilidade pelo projeto de orçamento da segurança social.

O parlamento francês vai debater e votar na quarta-feira as moções de censura apresentadas pela esquerda e pela extrema-direita contra o Governo do primeiro-ministro Michel Barnier, disseram esta terça-feira fontes parlamentares.

REUTERS/Sarah Meyssonnier

A moção de censura apresentada pela aliança de esquerda Nova Frente Popular deverá ser aprovada, uma vez que a União Nacional, de extrema-direita, também teve uma iniciativa idêntica, segundo a agência francesa AFP.

As moções surgem depois de o primeiro-ministro de centro-direita e antigo comissário europeu ter apelado na segunda-feira ao Governo de três meses para que assumisse a responsabilidade peloprojeto de orçamento da segurança social. A sessão parlamentar sobre as moções de censura foi agendada para as 16h locais (menos uma hora em Lisboa), segundo as fontes contactadas pela AFP.

Barnier deverá falar sobre a crise às 20h de hoje, respondendo a perguntas da imprensa em dois canais de televisão em direto da sua residência no Hôtel Matignon. O primeiro-ministro, de 73 anos, atribuiu ao executivo a aprovação do orçamento da Segurança Social sem votação, insistindo que tinha "chegado ao fim do diálogo" com os grupos políticos.

A decisão expôs o Governo a uma moção de censura que tem todas as hipóteses de ser aprovada, com a esquerda e a extrema-direita a anunciarem que a votarão favoravelmente. "A queda de Barnier é um dado adquirido", considerou a líder parlamentar do grupo de esquerda radical França insubmissa, Mathilde Panot.

O deputado socialista Arthur Delaporte defendeu que o Governo irá cair porque a União Nacional, que lhe deu um "apoio incondicional", deixou de apoiar o executivo.

Nomeado em 5 de setembro, Barnier fez algumas concessões e recuou nos esforços exigidos aos franceses face à derrapagem das finanças públicas, mas não foi suficiente. "Censurar este orçamento é, infelizmente, a única forma que a Constituição nos dá para proteger o povo francês de um orçamento perigoso, injusto e punitivo", declarou hoje a líder parlamentar da União Nacional, Marine Le Pen.

Ao longo da manhã desta terça-feira, os ministros foram-se sucedendo na rádio e na televisão para alertar para o risco de caos com a previsível queda do Governo. "É o país que estamos a pôr em perigo", disse o ministro da Economia, Antoine Armand, citado pela AFP.

O ministro do Orçamento, Laurent Saint-Martin, acusou a União Nacional de ter procurado um pretexto "para votar uma moção de censura que tinha em mente desde o início". "Será que queremos mesmo o caos? Queremos uma crise económica que afeta os mais vulneráveis?", disse o ministro do Interior, Bruno Retailleau, na TF1, convencido de que Barnier ainda pode conseguir rejeitar a moção de censura.

Se a moção de censura for aprovada pela Assembleia Nacional será a primeira que tal acontece em França desde 1962, o que faria do Governo Barnier o mais curto da história da V República. Para derrubar o Governo, é necessário um voto de censura de 288 deputados, um número ao alcance de uma aliança de circunstância entre a esquerda e a extrema-direita.

Se o executivo cair, agrava-se a crise política criada pela dissolução da Assembleia Nacional pelo Presidente Emmanuel Macron, em junho. O país corre também o risco de uma crise financeira ligada ao nível de confiança dos mercados na capacidade das autoridades públicas de contrair empréstimos a taxas baixas.

O défice público francês em percentagem do Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu acentuadamente para um valor esperado de 6,1% em 2024, e o país não espera voltar a cumprir a regra dos 3% da União Europeia (UE) antes de 2029. Barnier tinha inicialmente proposto um esforço orçamental de 60 mil milhões de euros até 2025.

Se o cenário de uma moção de censura se confirmar, caberá a Macron, que iniciou na segunda-feira uma visita de Estado à Arábia Saudita, nomear um novo primeiro-ministro.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

A longa guerra dos juízes que não se suportavam - o ataque

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

A longa guerra dos juízes que não se suportavam - o contra-ataque

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Vida

Encontraram soldados nazis enterrados no quintal

TextoSusana Lúcio
FotosSusana Lúcio
Exclusivo

Repórter SÁBADO. Jihadista quer cumprir pena em Portugal

TextoNuno Tiago Pinto
FotosNuno Tiago Pinto