Secções
Entrar

Organização portuguesa para sem-abrigo nos EUA ajuda 300 pessoas por semana

06 de dezembro de 2020 às 10:04

Açoriana que fundou a organização para os sem-abrigo MÃE no estado de Rhode Island, há 12 anos, acredita que qualquer pessoa pode ajudar e fazer uma grande diferença.

A portuguesa Martinha Javid, fundadora da organização MÃE em Rhode Island, Estados Unidos, que atualmente ajuda 300 pessoas por semana, defende que a solidariedade e ajuda aos mais carenciados são ações fáceis que podem crescer "num instante".

Martinha Javid, açoriana que fundou a organização para os sem-abrigo MÃE no estado de Rhode Island há 12 anos, acredita que qualquer pessoa pode ajudar e fazer uma grande diferença.

"Eu comecei na minha cozinha, com as minhas filhas, a fazer sanduíches e levar para fora. Era eu que comprava tudo, não recebia dinheiro de ninguém, era tudo das minhas finanças", recorda a portuguesa que vive nos Estados Unidos há mais de 40 anos e que diz que sentiu "na alma" um chamamento da Virgem Maria para ajudar, escolhendo assim o nome nome para a organização sem fins lucrativos.

Depois, vendo que as pessoas na rua precisavam de mais apoio, começou a fazer e a distribuir saquinhos com produtos de higiene pessoal e a pedir a amigos roupas que já não precisavam, para dar aos sem-abrigo.

"Num instante, começámos a crescer e hoje ajudamos mais de 300 pessoas por semana", afirma Martinha Javid, acrescentando que "o mais que é preciso é tempo, compaixão e ouvir o que eles têm para dizer".

A organização distribui comida a pessoas necessitadas, ajuda a dar um teto a sem-abrigo com o preenchimento de papéis e requisitos, encaminha para tratamentos médicos, terapias de saúde mental e educa os sem-abrigo a tornarem-se mentores e exemplos para outras pessoas, através de programas de saúde mental.

A cozinha industrial nos espaços da organização, em West Warwick, não é só para produzir e distribuir refeições, mas para ensinar a cozinhar também e dar alguma experiência para encontrar trabalho. Mais tarde pode vir a ser transformada num café e num espaço de socialização.

A prática da agricultura também faz parte das atividades, educando a viver de forma sustentável.

Cerca de 20 voluntários atuam em cinco cidades em Rhode Island, nos Estados Unidos, mas uma expansão geográfica está nos planos e ambições de Martinha Javid.

A pandemia de covid-19 tornou mais importante o trabalho de organizações como esta e o número de pessoas que procuram ajuda também aumentou, explica a portuguesa.

"Este ano tivemos de trabalhar muito mais, porque o coronavírus mudou tudo para organizações como a nossa", disse Martinha Javid, acrescentando que desde o início da pandemia, mais de 400 novas pessoas procuraram a organização.

Como quase tudo teve de ser adaptado durante a pandemia, o modelo como a organização distribui comida e roupas também mudou.

Em vez dos banquetes que se faziam, montando mesas, trazendo travessas de comida, agora as refeições são oferecidas em contentores individuais e não há mais de cinco voluntários em cada lugar.

Máscaras, luvas e desinfetante para as mãos também agora fazem parte das doações que a organização distribui, junto com a ajuda de encontrar hotéis para se poder ficar em quarentena.

A principal parte do processo de chegar a novas pessoas em necessidade é passar tempo "lá fora". A organização escolhe cidades onde existem mais sem-abrigo, como Providence, Pawtucket, Warwick, Woonsocket e, mais recentemente, Cranston.

"Distribuímos comida e roupa e nesse tempo passamos a conhecer as pessoas, a falar sobre o que precisam, por que estão na rua e o que podemos fazer para as ajudar", descreve a portuguesa.

Martinha Javid afirma que se cria "uma relação muito especial com as pessoas" e é assim que "a obra começa", fundada na "confiança" dos que precisam.

Estabelecer relações com sem-abrigo é um processo: "Muitas vezes estão muito fechados, não têm confiança em ninguém. Leva um bocadinho de tempo para eles saberem que estamos lá para os ajudar, nada mais".

Depois a palavra passa e os sem-abrigo que conhecem a organização avisam outras pessoas em necessidade que também podem recorrer à ajuda.

A açoriana sente-se orgulhosa das pessoas vulneráveis que se tornam "mais sólidas", encontram casa e trabalho e às vezes voltam para ajudar os outros onde um dia eles se encontravam, "em refúgios, dormindo na rua ou com problemas de álcool".

"É uma coisa muito bonita", considera a portuguesa, que sonha levar a organização MÃE para outros lugares dos Estados Unidos e do mundo, com pessoas dispostas a ajudar e a fazer "a obra" crescer.

"Quero muito começar a nossa missão em diferentes países. Gostava muito que fosse na comunidade portuguesa, porque é muito importante para mim", conta Martinha Javid, que espera encontrar pessoas interessadas, em qualquer parte do mundo e com paixão de servir a comunidade à volta.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela