Secções
Entrar

"Não é aceitável" que ainda haja pena de morte na Guiné Equatorial

28 de fevereiro de 2018 às 11:56

Augusto Santos Silva vincou que a abolição é diferente de moratória.

O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, considerou hoje que "não é aceitável" que a pena de morte não tenha sido ainda abolida na Guiné Equatorial, vincando que a abolição é diferente de moratória.

1 de 6
Foto: António Cotrim/Lusa
Augusto santos Silva Costa
Foto: Cofina Media
Foto: Manuel de Almeida/Lusa
Foto: Cofina
Foto: Vítor Mota
Foto: Mafalda Santos

"Se me pergunta se é aceitável [a existência da pena de morte], respondo que não, visto que a adesão da Guiné Equatorial à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ficou sujeita a três compromissos", entre os quais a abolição da pena de morte.

O governante, que está a ser ouvido na comissão parlamentar dos Negócios Estrangeiros sobre a política geral do ministério e sobre a base das Lajes, e que respondia a uma pergunta do líder parlamentar do Bloco de Esquerda, Pedro Filipe Soares, lembrou que o terceiro compromisso era "a abolição da pena de morte, e isso não está a ser cumprido".

Santos Silva apontou: "O que está em vigor é uma moratória, mas isso é diferente de abolição, e a participação na CPLP é em si incompatível com a presença da pena de morte no enquadramento legal".

O ministro respondia a uma pergunta do deputado sobre "o quadro de menosprezo sobre o legado da CPLP", que inclui a detenção de um 'cartoonista' por ter publicado desenhos satíricos do Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema.

"Pedimos informação quando vimos essa notícia de que o procurador, as autoridades judiciais da GE, estavam a pedir a pena de morte, mas a informação que recebemos é que a notícia não corresponde à verdade", disse Santos Silva.

A pergunta do líder parlamentar do Bloco de Esquerda e as declarações de Santos Silva surgem no dia seguinte à notícia de que o procurador da República da Guiné Equatorial pediu a libertação do ‘cartoonista’ Ramon Nse Esono Ebalé, que estava detido há mais de cinco meses, devido a "falta de provas", segundo a AFP.

O representante do Ministério Público, Rafael Ondo Nguema, disse no tribunal de Malabo que "por perceber que há falta de provas claras" não exigia "nenhuma penalidade" contra o 'cartoonista', detido desde meados de Outubro de 2017.

A União Africana tinha já criticado no início de Fevereiro a detenção do ‘cartoonista’, remetido a custódia policial "por causa dos seus trabalhos que criticam regularmente o Governo da Guiné Equatorial".

Em Setembro do ano passado, a justiça da Guiné Equatorial justificou a prisão de Esono Ebalé por "lavagem de dinheiro e falsificação".

"Mandaram-me cinco meses para a prisão e a verdade é que conseguiram parar com os meus desenhos", disse o caricaturista durante a audiência com Rafael Ondo Nguema, rejeitando as acusações de lavagem de dinheiro e de falsificação.

Referindo-se ao caso, Robert Russel, director executivo da Rede Internacional dos Direitos dos Cartoonistas (CRNI), considerou que "Ramón Nse Esono Ebalé não fez nada mais do que perguntar o que o resto do país tem medo de perguntar e a resposta que obteve foi uma cela na prisão".

Numa das caricaturas, Nse Esono Ebalé desenhou o Presidente da República, Teodoro Obiang Nguema, bem como outras altas personalidades do regime a roubarem dinheiros públicos para financiarem vidas luxuosas sem se preocuparem com a pobreza dominante no país.

Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela