Moçambique vai a eleições em clima de insegurança
O terrorismo islâmico, a fome e a corrupção são alguns dos principais desafios que o presidente Filipe Nyusi deixará ao seu sucessor.
Os moçambicanos vão escolher, esta quarta-feira, o sucessor do presidente Filipe Nyusi cujo segundo mandato está a chegar ao fim. Serão ainda eleitos os 250 membros do parlamento e os representantes das assembleias de província. A Frelimo deve voltar a ser o partido vencedor, como tem acontecido sempre desde a independência moçambicana, em 1975, mas analistas referem que resultado do candidato Daniel Chapo pode não ser tão folgado quanto esperado.
Estão registados 17 milhões de eleitores, num país com 31 milhões de habitantes, e com as sondagens a apontar para que o candidato da Frelimo - Frente de Libertação de Moçambique, Daniel Chapo, vença as eleições. Os restantes três candidatos a presidente da República moçambicana são Ossufo Momade, pela Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Lutero Simango, pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM) e Venâncio Mondlane, pelo Partido Otimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos).
Um dos principais legados deixados por Nyusi é a instabilidade no norte de Moçambique devido aos ataques jihadistas à região de Cabo Delgado. A província viveu um período de aparente acalmia durante o ano de 2023, mas no final do ano passado e início deste ano, voltou a ser palco de conflitos violentos e intensos. Mais de 1,3 milhões de moçambicanos estão deslocados devido aos ataques da Al Shabab, o grupo de terroristas da milícia moçambicana ligada ao Estado Islâmico. O próximo presidente terá de lidar com esta situação que se arrasta há vários anos.
Outro dos grandes problemas que o país enfrenta é o da seca e consequente fome. O relatório mais recente da FAO -Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura -, dá conta de mais de um milhão de pessoas em situação de fome no país.
Moçambique. O terror que esperou para voltar
As últimas eleições em Moçambique, que decorreram em 2023, foram marcadas pelas acusações de fraude eleitoral e protestos junto das urnas. A capital de Moçambique, Maputo, estava, a uma semana das eleições, pintada com o vermelho da Frelimo, enquanto a propaganda dos restantes partidos quase não existe, relatou a Lusa, mas a comissão responsável pelas eleições garante que a lei não está a ser infringida e que o processo de campanha está a decorrer com normalidade.
No entanto, os partidos da oposição lembram que houve atrasos da Comissão Nacional de Eleições de Moçambique na atribuição de fundos destinados aos partidos políticos, o que denunciaram como sendo uma manobra para favorecer a Frelimo e, em agosto, entrou em vigor a legislação com a qual se eliminou a competência dos tribunais distritais de ordenarem a recontagem de votos nas eleições. A alteração mereceu críticas da Associação Moçambicana de Juízes, que considerou existir uma "politização dos processos judiciais" no país.
Votação mais renhida
Apesar de ser previsível a vitória de Daniel Chapo, que recebeu o apoio de Filipe Nyusi, os analistas acreditam que Venacio Mondlane, do Podemos, deverá ficar em segundo lugar e conseguir um bom resultado. O candidato, de 50 anos, prometeu, caso vença as eleições, tornar Moçambique "independente de um certo partido", referindo-se à Frelimo, no poder desde a independência do país. "Não queremos mais ser reféns de nenhum partido dentro das instituições do Estado e do Governo, o Governo e o Estado devem servir a todos os moçambicanos", defendeu Mondlane.
O Governo moçambicano concedeu tolerância de ponto, na quarta-feira, aos trabalhadores dos setores público e privado em todo o país para "permitir a sua participação" nas eleições gerais, foi anunciado na terça-feira. Para as eleições gerais, estão a ser formados 184.310 membros das mesas de voto (MMV) e mais de 10% de reserva, para servirem as 26.330 mesas de votação, incluindo 602 mesas da diáspora.
Estão registados cerca de 12 mil observadores, nacionais e estrangeiros, para acompanhar as eleições, anunciou o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE). Entre os observadores credenciados encontram-se representantes das Missões de Observação Eleitoral da UE, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), da União Africana e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Para acompanhar o escrutínio estão credenciados 1.581 jornalistas nacionais e 10 internacionais.
Esta será a sétima vez que Moçambique vai a eleições presidenciais.
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