Secções
Entrar

Lukashenko celebra 30 anos no poder na Bielorrússia com proteção do Kremlin

Lusa 20 de julho de 2024 às 15:52

Vladimir Putin o seu fiel aliado numa mensagem, na qual destacou o seu contributo para as relações amigáveis entre os dois países e para a criação da união estatal com a Rússia

O líder autoritário bielorrusso, Alexandre Lukashenko, celebra este sábado 30 anos no poder graças ao apoio político, económico e militar do Kremlin, que transformou a ex-república soviética num protetorado, envolvendo-a na guerra na Ucrânia e na oposição à NATO.

Press Service of the President of the Republic of Belarus/Handout via REUTERS

O Presidente russo, Vladimir Putin, felicitou este sábado, 20, o seu fiel aliado numa mensagem, na qual destacou o seu contributo para as relações amigáveis entre os dois países e para a criação da união estatal com a Rússia, um mecanismo de integração que abre caminho à transferência de soberania para o seu vizinho.

"Lukashenko não governa a Bielorrússia, apenas gere o seu território. Todas as decisões são tomadas no Kremlin", comentou à agência EFE o líder da oposição exilado Pavel Latushko, antigo ministro da Cultura.

Lukashenko governa o seu país como a quinta estatal (sovkhoz) que dirigiu durante sete anos antes de assumir o poder em 20 de julho de 1994. Aos 69 anos, já é o líder europeu no poder há mais tempo.

Com a luta contra a corrupção como bandeira, Lukashenko ganhou as eleições e estabeleceu um sistema em que o KGB – a única antiga república soviética onde a polícia secreta mantém este nome – reprime violentamente qualquer indício de dissidência.

"Chegou entre problemas sociais profundos. Os bielorrussos aceitaram um populista que prometia soluções e optaram por uma aliança com a Rússia", explica o opositor.

Desde então, ganhou a alcunha de "último ditador da Europa", e o seu país é o único do continente onde a pena de morte ainda é aplicada.

Lukashenko esteve perto de ser deposto nos protestos em grande escala contra a fraude eleitoral em 2020, mas resistiu graças à inestimável ajuda de Putin e agora, apesar de não ser reconhecido pelo Ocidente, planeia recandidatar-se em 2025.

"Nem os americanos, nem os polacos, nem os europeus. Não nos importamos com a opinião deles, embora estejamos dispostos a ouvi-la. Trabalhamos para o povo", disse na véspera das eleições.

A oposição no exílio sustenta que o regime é apoiado por três pilares: Putin, o medo e a dependência dos bielorrussos do Estado paternalista e a sua economia quase planeada, alimentada por hidrocarbonetos russos subsidiados.

"Lukashenko dirige algo semelhante à república socialista soviética da Bielorrússia. Tal como nos tempos da URSS, tudo está acordado com Moscovo. A política externa e de defesa depende absolutamente do Kremlin", sublinha Latushko.

Em sinal de gratidão para com Putin, Lukashenko permitiu que as tropas russas utilizassem o território bielorrusso em fevereiro de 2022 como plataforma para invadir a Ucrânia, o que o tornou cúmplice da campanha militar e inimigo de Kiev.

Posteriormente, utilizando o argumento da ameaça da NATO, Moscovo deslocou para a Bielorrússia armas nucleares táticas como instrumento de dissuasão e Putin equiparou uma possível agressão contra o país vizinho a um ataque à Rússia.

No entanto, segundo a oposição, 97% dos bielorrussos opõem-se à integração com a Rússia e mais de 80% são contra a participação do seu exército na guerra na Ucrânia.

A oposição denuncia que Lukashenko criou "um sistema totalitário" durante 30 anos em que prendeu dezenas de milhares de pessoas, empurrou mais de meio milhão para o exílio, fechou todos os meios de comunicação independentes e extinguiu os onze partidos políticos legais e cerca de 1.660 organizações não-governamentais.

Segundo a organização de defesa dos direitos humanos Viasna (Primavera), cerca de 1.400 presos políticos estão detidos em cadeias bielorrussas, incluindo o seu fundador e vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2022, Ales Bialiatski.

Nos últimos dois anos, pelo menos seis ativistas morreram atrás das grades.

Latushko revelou à EFE que o Ministério Público polaco, onde se encontra exilado, abriu uma investigação sobre tentativas de assassínio contra ele por parte de um serviço secreto estrangeiro.

O opositor salientou, por outro lado, que uma sondagem independente estima que 65% dos bielorrussos apoiam a democracia no último bastião estalinista na Europa.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela