Human Rights Watch acusa Guterres de estar em "silêncio" sobre direitos humanos
O diretor executivo da organização internacional teceu duras críticas ao antigo primeiro-ministro português, embora reconheça as suas capacidades de mediador.
O diretor executivo daHuman Rights Watch(HRW), Kenneth Roth, criticou hoje o secretário-geral das Nações Unidas,António Guterres, pelo seu silêncio sobre os direitos humanos, o que considerou "profundamente preocupante" nos tempos que correm.
Num artigo publicado noWashington Post, com o título "Why the U.N. chief's silence on human rights is deeply troubling" ("Por que o silêncio do chefe das Nações Unidas sobre direitos humanos é profundamente preocupante"), o diretor executivo da organização internacional teceu duras críticas ao antigo primeiro-ministro português, embora reconheça as suas capacidades de mediador.
Referindo que o mandato de António Guterres à frente das Nações Unidas se definiu pelo "seu silêncio em direitos humanos - mesmo com a proliferação de violações sérias", Kenneth Roth acusou o secretário-geral da ONU de ter ficado "firmemente do lado da diplomacia silenciosa".
O diretor executivo da HRW salientou que "todos os secretários-gerais das Nações Unidas têm lutado para falar, tentando equilibrar o seu papel de mediadores de disputas com a necessidade de representar os valores" do órgão que representam, mas ao fim de metade do seu mandato de cinco anos António Guterres prefere ficar em silêncio.
Opinion: Why the U.N. chief’s silence on human rights is deeply troubling https://t.co/vAGL5tGvln
"O apoio aos direitos pode fechar algumas portas diplomáticas, mas manter o silêncio deixa a perceção de que as Nações Unidas são indiferentes às atrocidades, abandonando as vítimas enquanto que ao mesmo tempo enfraquece as perspetivas de paz", alertou.
Kenneth Roth sublinhou que Guterres "marcou o tom" desde o início do seu mandato, que coincidiu com a tomada de posse de Donald Trump, e disse que o secretário-geral da ONU só criticou a posição do Presidente norte-americano relativamente à comunidade muçulmana "depois de vários governos o terem condenado" e "sem mencionar" o nome do chefe de Estado norte-americano.
"Talvez Guterres não quisesse dar a Trump uma desculpa para deixar de enviar cheques para as Nações Unidas. Mas a sua relutância em falar também caracterizou a sua abordagem a outros governos", apontou, citando exemplos da Arábia Saudita, China ou Rússia.
No caso da China, exemplificou com as preocupações manifestadas por vários governos sobre a detenção de cerca de um milhão de muçulmanos de origem turca, maioritariamente uigures, tendo em vista a doutrinação forçada.
Na altura, acusou Roth, Guterres "não disse uma única palavra" sobre o tema "em público", embora tenha elogiado o desenvolvimento económico da China.
"Guterres também declinou, repetidamente, exercer a sua autoridade" para estabelecer missões de apuramento de factos relativamente ao homicídio do jornalista saudita Jamal Khashoggi, o uso de armas químicas na Síria ou ainda do assassinato de dois monitores da ONU no Congo, afirmou.
Embora tenha reconhecido que, "em raras ocasiões", o secretário-geral assumiu "uma posição de princípio sobre direitos" humanos, o certo é que "para a maioria dos assuntos" sobre este tema "o som dominante proveniente do 38.º andar da sede das Nações Unidas tem sido o silêncio".
"Não há dúvida de que Guterres é um diplomata capaz e com consciência, mas a sua decisão de reprimir a sua voz sobre direitos humanos, especialmente quando civis são alvo em conflitos armados, é um equívoco", considerou.
Roth referiu também que "por mais de dois anos, Guterres apresentou desculpas para não defender publicamente os direitos humanos" e "queria focar-se em reformas internas", pelo que "precisava de estabilizar as relações com Trump", mas as "crises de hoje são demais, as vítimas civis são demasiado numerosas" o antigo primeiro-ministro "reduzir o seu trabalho a mediador chefe".
"Falar nunca é fácil. Há sempre um preço político, até pessoal, a pagar, mas isso é o preço da liderança. Guterres deveria mostrar que ele pode preencher por completo as suas responsabilidades enquanto secretário-geral das Nações Unidas", acrescentou o diretor executivo da Human Rights Watch.
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